O cerrado é forte

O sol promete. Aquela bola vermelho-sangue que desaparece no horizonte do cerrado, todos os dias, nesta época do ano, cresce como vista por uma lente de grau, na turva névoa seca das tardes do Planando Central, adensada por partículas suspensas, poeira e fuligem de queimadas.

 

E nós, em Brasília,  em brasa, a respirar de boca seca e a serpentear as trilhas dos gramados pardos da cidade, feitas com nosso andar, como répteis, cascudos, resistentes a tudo.

 

Quando chega a chuva, o vento varre, a água lava,  os insetos que estavam enfiados debaixo da terra, grudados nas raizes úmidas das árvores e plantas, para, no limite da seca, se salvarem, sobem por caules e troncos a procura de boas refeições nos brotos e folhas novas,  nutridas pela seiva que subiu desde as raizes.

 

As folhas são os narizes das plantas, são por onde respiram, fazem a fotossíntese e tingem a paisagem de um verde novo, viçoso, renovando tudo.

 

Os insetos (cigarras e outros), nos passeios, por sua vez, viram refeição da passarada.

 

De papo cheio, cantam, fazem a festa.

 

A alegria vem da barriga, já dizia meu pai, Genésio Cerqueira, camponês que sabia tudo de mato e bicho.

 

Lembro muito bem quando ele me disse isso.

Relacionados