Quase réptil

Nessa época em Brasília o sol já nasce tórrido e segue o dia torrando tudo.

Respirando de boca seca, viro réptil serpenteando os gramados pardos da cidade.

É quando tenho vontade de ir embora para outro lugar à procura de sombra e água fresca.

Mas, curiosamente, parece que o solo fermenta, sobe em forma de seiva e faz pipocar flores coloridas nas pontas dos galhos das árvores peladas.

Matuto que sou, fico encantado com os manacás, os ipês, as sucupiras, me distraindo à espera das primeiras chuvas.

Do meu lajedo, ouço o silêncio do dia e o alvoroço dos insetos esfregando as patas nas tocas debaixo do chão, prontos para subir às manadas pelos troncos a procura de resinas gosmentas nos brotos, nas flores mortas, para a ceia da estação.

A passarada espreita os bichinhos e faz deles também o seu banquete. De papo cheio, canta, faz a festa.

Quando a chuva cai tudo brota, tudo se renova e um verde viçoso cobre a paisagem.

Aí me acalmo.


 

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