Parece que Temer governa para Marcela

 

Temer e Marcela

Às margens do sereno Lago Paranoá está situado o Palácio do Jaburu, onde moram Michel Temer e Marcela Temer. Além desse, o casal tem à sua disposição mais dois:  o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, para despachos, e ainda a Granja do Torto, caso queira mudar de ares, passar um final de semana ou feriado.

Diferentemente, por exemplo, da Chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que vive no seu próprio apartamento de dois quartos, na região central de Berlin. E de outros chefes de Estado, que têm vida monástica, andam de metrô e vivem em suas próprias residências.

Palácio é uma herança da monarquia que mexe profundamente com o reino da fantasia de muita gente. Ainda mais quando os ocupantes se inebriam com o poder em delírios narcísicos, como se fossem reis, rainhas, príncipes e princesas, acompanhados por entourages.

Num país como o Brasil, que se define constitucionalmente e institucionalmente como uma república, com desigualdade abissal, com a imensa maioria da população na pobreza extrema, agora abandonada à própria sorte, o apartheid social fica explícito.

O casal Marcela e Temer parece tomado por sentimento monárquico, mas não de qualquer monarquia. Se há reencarnação de reinado, o casal deve estar possuído pelos espíritos de Maria Antonieta, rainha consorte da França, e de Luís XVI, que se casou com ela, quando ela tinha 14 anos de idade, para resolver um problema político com a Áustria. Não é o caso de Dona Marcela e Temer.

Mas é como se Temer tivesse usurpado o trono para Dona Marcela e a grande mídia encarregada de novelizar o casal e o governo. Enquanto isso, além dos muros palacianos, a economia afunda, a tragédia social se espraia pelo país, com cabeças rolando nos presídios, que explodem em violência, o desespero acossa as famílias com desemprego em massa e inflação, totalmente desprotegidas e sem perspectiva.

Deixando transparecer certo deslumbramento com a vida em palácios (Jaburu, Alvorada, Planalto, mais a Granja do Torto), e alheio aos gravíssimos problemas do país, Temer se rende aos caprichos de Dona Marcela e se envolve em reformas dos aposentos palacianos, como se estivessem reformando a própria casa.

Michel Temer está alterando a decoração dos palácios, concebida pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Ana Maria Niemeyer, para satisfazer caprichos de Dona Marcela, que disse não gostar das cores vermelho, preto e de telha.

Estão sendo arrancados tapetes vermelhos, trocando móveis de cor preta, obras de arte e objetos de decoração históricos, que compõem a arquitetura interior dos palácios.

Dona Marcela ignora o fato de os palácios e suas decorações interiores serem tombados como patrimônio público, histórico e cultural do país, que fazem parte do conjunto arquitetônico de Brasília, também tombada como patrimônio da humanidade pela ONU.

O que o casal está fazendo é uma agressão ao patrimônio arquitetônico e cultural do país, movido por impulsos de gente rastaquera, que demonstra não saber o valor estético do que estão metendo a mão.

Brasília-DF, 21/06/2011. Fachada e interior do Palácio da Alvorada. Foto: Ichiro Guerra/PR.

Para ver o Palácio da Alvorada clique aqui

https://youtu.be/XHjs5fjv8FE

Os casais Temer-Marcela e Luís XVI-Maria Antonieta guardam semelhanças no “comportamento monárquico”, na aliança com a alta classe empresarial e financeira, com a proteção da aristocracia tecnocrática, judiciária, militar e policial do Estado, mais a maioria esmagadora, corrupta, do parlamento.

Na corte de Luís XVI havia a Nobreza Togada, em que alguns juízes e altos funcionários burgueses adquiriram seus títulos e cargos, com altos custos para o povo, transmissíveis aos herdeiros. Essa categoria era de aproximadamente 1,5% dos habitantes da França.

Podem ser apenas coincidências, mas a “síndrome de corte” e a indiferença ao sofrimento do povo, mais a governança voltada para grandes negócios e privilégios de classe, não deixam de ser bastante parecidas.

Acusada pelo povo francês de frívola e perdulária, por causa do esbanjamento do dinheiro público, das amizades, do excesso de banquetes e festas, entre outras frivolidades, Maria Antonieta, conseguia tudo o que exigia do marido, que tinha complacência ilimitada com os pedidos da esposa.

Luís XVI e Maria Antonieta

 

Consta que certa vez, num passeio com seu cocheiro, ela perguntou por que razão toda aquela gente, que viu no percurso, parecia tão desgraçada.  Majestade, não há pão para comer. As colheitas fizeram com que o preço do pão aumentasse excessivamente e o povo está sem dinheiro por causa da crise, disse o cocheiro. Ao que Maria Antonieta respondera com a histórica frase: “Se não tem pão, que comam brioches”.

Enquanto se fechavam no Palácio, na opulência e no esbanjamento de recursos públicos, com a complacência da nobreza, da entourage política e burocrática que apoiavam o reinado absolutista mergulhado em dívidas, Luís XVI e Maria Antonieta não deram importância para a crescente ira popular que fermentava nas ruas de Paris.

O povo bradava pelo fim dos gastos absurdos da corte, contra a servidão, os privilégios da nobreza, do clero e da aristocracia, que não pagavam impostos e viviam vida nababesca. Além disso, os ideais iluministas da reforma crepitavam nas ruas ao coro de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

A nobreza francesa reagiu às ideias de reforma e às manifestações do povo com hostilidade, apontando os canhões da Bastilha contra bairros operários. Numa batalha sangrenta, o povo tomou a Bastilha e deu início à Revolução Francesa. O rei foi suspenso, preso e a Primeira República Francesa proclamada. Em seguida, Luiz XVI e Maria Antonieta foram condenados e executados na guilhotina.

Dona Marcela, nos palácios, lembra também Dona Dulce Figueiredo, mulher de João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, famosa por levar o general a rédeas curtas e por conseguir com o marido o que queria com seus caprichos. É de Figueiredo a infeliz frase de que preferia o cheiro dos seus cavalos ao cheiro do povo.

Temer, como Figueiredo, vive ilhado nos Palácios ao lado de sua primeira dama, longe do povo, não apenas deslumbrado ao lado de Dona Marcela, mas por ser rejeitado pela quase unanimidade da população. Enquanto isso, subtrai direitos dos trabalhadores, entrega o patrimônio público do Estado à elite empresarial e financeira nacional e internacional.

A persistir as ideias de “modernidade” de Dona Marcela, e as reformas destrutivas, é possível que ela queira trocar também as Emas que vivem nos gramados do Palácio da Alvorada por cachorros fosforescentes.

A novidade vem do mundo da ciência, dos laboratórios da Turquia. Lá, cientistas inventaram um cachorro fosforescente com modificação genética a partir da introdução de um gene de Água Marinha.

Imagine Temer e Dona Marcela, em frente ao Palácio da Alvorada, passeando numa noite escura, puxando pela coleira aquelas bolas de luz verde, em silêncio, para lá e para cá. Viram atração turística em Brasília.

Dona Marcela pode querer que o governo importe a fórmula e produza esses cães no Brasil. João Dória também, com suas ideias de “modernidade”, pode se interessar por alguns desses animais, de cores verde e amarela, para, quem sabe, organizar um desfile noturno na Avenida Paulista com seus seguidores. Aliás, ele e Dona Marcela parecem combinar nas ideias de “modernidade”.

Enquanto isso, Temer dá sinais de que não está percebendo a beirada do abismo. O país foi paralisado durante dois anos na conspiração para o golpe de Estado, com bloqueio do governo Dilma, no parlamento, para deposição da Presidenta.

Ele agora está sendo acusado de fraco, incompetente, inerte, e de ter adotado uma política econômica na contramão do mundo, por pessoas do próprio setor empresarial que o colocou no poder.

Temer instalou um imenso cabide de empregos na Esplanada dos Ministérios, com cargos entregues a pessoas comprovadamente desqualificadas, de moral deplorável, e afunda na própria inércia, levando o país à depressão econômica, ao colapso institucional e ao caos.

O envolvimento com a reforma dos palácios para fazer o gosto de Dona Marcela é simbólica. É como se o casal Temer estivesse dizendo ao povo: “se não tem pão, que coma brioches.”

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