Leadbelly

 

Leadbelly

 

Por: Luiz Clementino

A arte é uma energia poderosa, sutil e harmoniosa. Brota em ambientes e situações diversas, com linguagens também diversificadas.   Floresce na alegria e na tristeza, em ambientes de luxo e requinte das elites, como também em situações de exclusão social.

Vejam o caso da escravidão, homens, mulheres e crianças, sequestrados da costa Áfricana, transportados de maneira perversa para o outro lado do mar, viveram o flagelo da servidão cativa e desumana, foram maltrados e humilhados. Porém, esse tormento foi a gênese de um som fascinante, encharcado de dor e ressentimento, o BLUES.

E consequentemente, como violência gera violência, a marginalização se alastrou e tornou-se um fato lamentável até os dias de hoje.

Um bom exemplo, é a história do soberbo bluesman LEADBELLY, um cara violentíssimo, brutal e destemido que teve o coração tocado pelos BLUES.

Vale apena conhecer e ouvir esse interessante artista.

 

Então bora-lá!!!

 

 

 

Em 1969 a banda de country-roccaliforniana CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL,  lançou o quarto álbum de estúdio, o excelente “Willy HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Willy_and_the_Poor_Boys”andHYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Willy_and_the_Poor_Boys” HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Willy_and_the_Poor_Boys”theHYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Willy_and_the_Poor_Boys” HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Willy_and_the_Poor_Boys”PoorHYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Willy_and_the_Poor_Boys” Boys”. O disco fez um estrondoso sucesso, haja vista que emplacou dois discos de platina.

O repertório apresentado no vinil, constam dez canções, onde duas se destacavam  “Cotton Fields”  e “The Midnight Special” , sendo que, ambas  não são composições de John Forgety, o lider e vocalista da extinta banda. Essas músicas são um primor, uma delícia, interpretado pela  voz gutural de John Forgety. Ouçam por favor:

 

https://www.youtube.com/watch?v=T00eJSQimIk –  Midnight Special

https://www.youtube.com/watch?v=3nNXpvZXZt8 – Cotton Field

 

 

 

E aconteceu que na época, ao pesquisarmos sobre a autoria dessas canções, o fascínio se complementou, esbarramos no bluesman do Texas:

Huddie William Ledbetter,  nome artístico LEADBELLY   (Mooringsport, 20 de janeiro de 1889 —Nova Iorque6 de dezembro de 1949).

Na pesquisa sobre as canções mencionadas acima temos:

The Midnight Special“, é uma canção tradicional que sofreu várias versões. Com a gravação de LEADBELLY de 1934, na penitenciária de “Angola Prison”, quando cumpria pena, a canção se popularizou.                       Quanto a “Cotton Fields“,  é de  sua autoria. Foi gravada em 1940, e de acordo com a letra, são reminiscências da infância nas plantações de algodão.

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Vejam agora as versões originais na interpretação de LEADBELLY:

https://www.youtube.com/watch?v=cu7gafphe9M– Midnight Special

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=eojxgTqtQUE – Cotton Field

 

 

Para melhor assimilarmos o trabalho desse artista, faz-se necessário, entendermos sua dura labuta pela vida. De acordo com seus biógrafos, ele cresceu em uma economia agrícola, apoiada num trabalho escravagista. Tendo na infância, trabalhado no meio rural do estado do Texas, absorveu então, o som tocado e cantado pelos seus ancestrais. E é notório que essas reminiscências foram rememoradas na canção “Cotton Fields”, em um dos versos ele canta:

                                “Quando eu era um pequeno bebê

                                Minha mãe me balançava na berço,

                                Nos velhos campos de algodão do meu lar…”

Vejam a versão no belo projeto Playing For Change:

https://www.youtube.com/watch?v=lQK5RKqXIYY

 

 

E o fato é que, além dessa monocultura do algodão, apresentar grande peso geográfico, demográfico e econômico para a região, também houve na cultura local grande preponderância do  BLUES, devido a mão de obra escravocrata .

 

 

Outra coisa, como o Texas, a Califórnia e territórios adjacentes, pertenciam ao México, e foram tomados pelos USA em 1845, as influências hispano-mexicana, na cultura regional foram marcantes. E notadamente na música, a coisa foi notória, houve mais swing e entusiasmo, que em outros estilos no blues de regiões adjacentes.

Formou-se “um blues particular, muito mais leve que o dramático e pungente Delta blues”, diz o historiador G. Herzhaft.

Os pesquisadores de música afro afirmam, que os escravos do leste e sudeste, eram relativamente melhores tratados do que na escravidão perversa do sul do Mississipi, e consequentemente, foi gerado um som menos triste, com um pouco mais de alegria.

Dentre outros, LEADBELLY foi uma figura lendária nesse contexto, um autêntico representante desse estilo. Seu som transparece certa alegria, e é despojado do ressentimento forte e melancólico do BLUES do Mississipi.

 

Com um instinto arrojado, truculento, e índole barra pesada, teve sérios problemas com a lei. O cara era brigão, marginal, assassino e consequentemente, passou parte de sua vida na prisão.

Claro que nada justifica a violência, porém, como afirmamos acima, as injustiças sociais sofridas durante a vida, contribu’ram de alguma forma para a marginalização e à criminalidade.

Digo isso porque, além da arte deste bluesman ser sobremaneira tocante, sua vida atribulada impressiona pra caramba.

                   Vejam o que consta em sua biografia:

        “ Em 1915 ele foi sentenciado a passar um tempo na Harrison County Jail por carregar uma arma, prisão da qual escapou, encontrando trabalho no condado de Bowie com o nome falso de “Walter Boyd”. Em janeiro de 1918 ele foi preso pela segunda vez, desta vez por ter matado um parente, Will Stafford, em uma briga por causa de uma mulher. Em 1918 ele foi preso em Sugar Land no Texas, onde provavelmente ele aprendeu a música “Midnight Special”. Ele serviu tempo na fazenda imperial  em Sugar Land. Em 1925 ele foi perdoado e solto, tendo sido preso por sete anos, depois de ter escrito uma canção apelando ao governador Pat Morris Neff para a sua liberdade. LEADBELLY influenciou a decisão de Neff em entreter os guardas e os outros prisioneiros tocando violão. Em 1930, LEADBELLY foi preso novamente, após um julgamento em Louisiana, com a alegação de tentativa de homicídio – ele tinha esfaqueado um homem branco em uma briga.”

                          O historiador Gerard H. em seu livro sobre Blues, conta que neste período, surgiram dois caras fantásticos, fissurados por música, JOHN E ALAN LOMAX, respectivamente pai e filho. Eram folcloristas, musicólogos, pesquisadores e arquivistas da música folclórica norte-americana, caribenha e europeia. Descobriram LEADBELLY em 1933, durante uma visita à penitenciária Angola Prison Farm, ficaram impressionados com o tenor vibrante da voz do bluesman, como também com seu imenso repertório, e consequentemente fizeram gravações de centenas de suas músicas. E complementa, que através da intervenção dos LOMAX, LEADBELLY conseguiu liberdade.

 

Foi levado para Nova York, e tornou-se vedete nos cabarés de Greenwich Village, frequentados por intelectuais. Cantou com o lendário trovador de injustiças sociais WOODY GUTHRIE, a “máquina de matar fascista”. Tornou-se então um dos primeiros artistas negros do sul a apresentar-se para um público exclusivamente branco do norte. Também fez turnê na França no fim de sua vida, tendo reconhecimento internacional do blues.

O crítico David Evans no livro “Mestres do Blues”, escreve no capítulo referente a esse bluesman, que: “ LEADBELLY iniciou o revival do interesse pelo country-blues e pela música folk, e muitas de suas canções, foram modelos no repertório dos cantores folks nos Estados Unidos e na Europa”. 

           

 

Em sua vasta antologia musical, não poderíamos deixar de registrar uma belíssima composição, trata-se de um valseado intitulado “Good Night Irene”. Essa agradável canção tornou-se apresentação obrigatória, não somente no cenário da nata folk-country, como também dentro da esfera do rock. Foi tão executada em todo o país, que se tornou um dos hinos do folk norte-americano.  A letra fala de um passado conturbado sobre um amor por uma garota chamada Irene, consequentemente no contexto, há tristeza e frustração.

 

Para se ter ideia do carisma dessa música, muitos músicos de primeira linha a gravaram, vejam alguns: Johnny Cash, Peter Seeger, Eric Clapton, Ry Cooder, LittleHYPERLINK “http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=search&rurl=translate.google.com.br&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Richard&usg=ALkJrhhquiL002Wo_mkITbnD7v1CafP8uQ” Richard,Jerry Lee Lewis ,Tom Waits,  Nat King Cole, Joan Baez, Willie Nelson, Judy Garland, Bob Hope,  Bing Crosby, Frank Sinatra e muito outros.

Agora convenhamos, uma canção que encantou tantos corações sensíveis, sem sombra de dúvida, trata-se de uma expressiva obra artística, muita simplicidade, ternura e sentimento.

 

Ouçam “Good Night Irene”:

 

https://www.youtube.com/watch?v=xn50JSI0W-E  com LEADBELLY

 

 

 

www.youtube.com/watch?v=HBpqDQxnLHA – com Johnny Cash

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=-Y0VhPXOooQ  com Mississippi John Hurt

 

 

Quando escrevíamos, este texto, coincidentemente Keith Richards lançou seu terceiro álbum solo, intitulado Crosseyed Heart . Neste trabalho, dentre as canções apresentadas consta   “Good Night Irene”,  vejam na voz e arranjos do guitarrista:

 

https://www.youtube.com/watch?v=GRONAR8uVzU com Keith Richards

 

 

LEADBELLY músico versátil e diversificado, onde seu ecletismo maravilhava não somente a elite musical, como a todos que o viam em ação.     Vejam outro trecho de sua biografia:

 

 

LEADBELLY se caracterizava por tocar de maneira potente seu violão de 12 cordas, porém multi-instrumentista, gravou também com piano, bandolin, gaita de boca (harmônica), violino, concertina e acordeão. Em outras gravações ele apenas canta batendo palmas e batendo os pés.  Seu repertório incluía gospel, blues sobre mulheres, bebida e racismo. Muita músicas folks sobre cowboys, prisão, trabalho, marinheiros,  colheita e dança. Realizou shows, participando de programas de rádio, como também de causas políticas humanitárias e esquerdistas”.

 

 

Enfrentou barras pesadíssimas, não somente os maus tratos do preconceito racial, como também, um demônio poderoso: o seu temperamento extremamente feroz e suas graves consequências.

Porém, tudo indica que, a energia rasteira da delinquência, foi dissolvida na beleza e no encanto de sua arte. Conquistou respeito e apreço através da música, e não na porrada como nos velhos tempos.

O cara deu volta por cima, trabalhou duro e exorcizou os tormentos. Seu blues executado de onde “o sol nasce quadrado”, atravessou as grades, e alcançou o novo e velho continente.

Plateias entusiasmadas tinham prazer em vê-lo se apresentar, demonstrando assim uma forma de carinho, coisa que talvez nunca tenha recebido na vida.

E nós que não vivemos sem música, temos apreço pela sua arte, que engrandece sobremaneira mundo dos BLUES.

Muito obrigado   LEADBELLY, você é um vencedor.

 

 

 

PS 1 –  “The Midnight Special“, com JOHNNY RIVERS:

 

https://www.youtube.com/watch?v=wgFE7hgl5LU  Johnny rivers

 

 

PS 2 – https://www.youtube.com/watch?v=y5tOpyipNJs&list=RDRy-8pCpTDCE&index=3     leadbelly – house of the rising sun

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=zj0IHtfUY-g Harry Belafonte com gaita de Bob Dylan raridade

https://www.youtube.com/watch?v=hPgXLqkf1ZU             cc rider

 

 

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