Doria é um político fabricado na margem direita do rio Tietê

Ele parece ter caído de um outdoor de propaganda de creme dental, com sorriso armado, pronto para fotos. É um político que nega ser o tipo de político que é.

Certas pirotecnias feitas na perspectiva da construção de um personagem, como se vestir com o uniforme de trabalhadores que cuidam da limpeza da cidade de São Paulo, empunhando uma vassoura diante de câmeras e microfones, são como se estivesse se envolvendo numa embalagem para se passar, para a população, por uma pessoa que ele não é.

Recentemente ele fez outras pantomimas. Andou de ônibus fingindo ser um trabalhador, gente do povo, que ele não é. Doria é um político e empresário formado no meio da elite econômica rastaquera paulistana que não gosta dos pobres, principalmente de nordestinos.

Essa construção de imagem falsa, de uma pessoa, que no fundo é outra, para fins eleitorais, revela uma personalidade sombria. Doria está se mostrando como o pior tipo de político que existe: o político enganador.

Essa insistência em dizer que não é político, que é gestor, está se desbotando muito rápido. Ele é filiado ao PSDB e sempre viveu no meio de políticos de reputação controvertida. Ponto.

Doria faz o mesmo que os políticos fazem para chegar ao poder. Se candidatou, fez alianças, acordos, fez campanha, se elegeu, está governando e fica dizendo por aí que não é político.

Na greve geral contra a subtração de direitos, a lei da terceirização, os projetos de lei da classe empresarial que acaba com o contrato de trabalho, com a previdência social pública, Doria botou as unhas e as presas de fora e disse que os trabalhadores que protestavam eram “vagabundos”. Esse é o Doria lobo, que se esconde numa pele de cordeiro.

Articulado pelo PSDB, Doria será homenageado, em agosto, na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba, sob as bênçãos do senador Cássio Cunha Lima. Estará fazendo política, obviamente, tentará se aproximar dos nordestinos para conquistar apoio para sua provável candidatura à presidência da República, com políticos do “baixo clero”, do Nordeste.

O senador Cássio Cunha Lima não é um político de biografia limpa. Ele foi cassado por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando governador da Paraíba, em 2008, por abuso de poder econômico e político e uso indevido de dinheiro público. Entre outras denúncias contra ele, consta a de distribuição de 35 mil cheques pela Fundação de Ação Comunitária durante a campanha eleitoral de 2006.

Cunha Lima tornou-se, de acordo com a decisão do tribunal, “ficha suja”, mas conseguiu se eleger senador porque o Supremo Tribunal Federal decidiu que a “Lei da Ficha Limpa” não atingiria os candidatos da eleição de 2010.

Atingido pela Operação Concord, da Polícia Federal, que apura esquemas de desvios de recursos e lavagem de dinheiro na campanha eleitoral de 2006, Cássio Cunha Lima foi acusado de distribuição de dinheiro e compra de votos. O caso ficou conhecido como o ‘Escândalo do Dinheiro Voador’, isso porque, tentando se livrar de autuação em flagrante pela PF, um operador da política local teria jogado R$ 400 mil do alto do Edifício Concord, em João Pessoa.

Cunha Lima é investigado no Supremo Tribunal Federal por esse escândalo e agora em novo inquérito da Procuradoria-Geral da República por envolvimento no escândalo da Operação Lava Jato. Esse é o anfitrião de João Doria que tenta aproximá-lo politicamente do Nordeste.

João Doria é um político fabricado na margem direita do rio Tietê. Ele pode ter conseguido enganar uma parte do povo paulistano, mas não conseguirá, com sua máscara de gestor, enganar o povo brasileiro, que ele aparenta não conhecer, por ter sido criado nos limites das fronteiras políticas de São Paulo, como Michel Temer.

Relacionados