O golpe e a subordinação do Brasil aos oligopólios internacionais

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É quase impossível mirar a paisagem política brasileira e não ver a força dos oligopólios financeiros e empresariais, seus operadores por traz do golpe de Estado e da sustentação política do governo a qualquer custo. O enredo é muito parecido com o golpe de 1964.

O Brasil se encontra embaraçado no liame político internacional, em meio a gigantescas disputas pelos abundantes recursos naturais, como sempre, de realinhamento à rede de negócios do sistema financeiro liderado pelos Estados Unidos e Europa, num momento de reacomodação de oligopólios transnacionais que buscam se posicionar no cenário da crise internacional.

O acirramento das disputas acontece com movimentos fortes de subordinação dos estados nacionais. No Brasil, por exemplo, os grandes lobbies setoriais contam com auxílio de agentes de interesses externos que transitam no mercado, na política, e na estrutura do Estado, para implantação a ferro e fogo de reformas que aviltam os direitos sociais e a soberania nacional, para atender demandas das corporações empresariais.

Embaladas num enganoso papel de “modernidade” as tais reforma oferecidas à população, a trabalhista, previdenciária, tributária, a lei da terceirização, o projeto de lei de venda de extensões ilimitadas de terras a estrangeiros, a entrega do petróleo, de minérios, água, ataque à legislação ambiental, as proteções às nações indígenas, de afrodescendentes, e a subtração de outros direitos como educação e saúde, visam transferir o ônus da crise para os trabalhadores e abre para ganhos do patronato.

Isso não é novidade, evidentemente, mas a crise potencializou a exploração de matéria prima e mão de obra.

No cenário político internacional, a eleição de Trump, nos Estados Unidos, que desponta como um gravíssimo fato político, a eleição de Emmanuel Macron, um banqueiro, na França, avanço dos conservadores na Inglaterra, ameaça de desmoronamento da União Europeia, golpe de Estado no Brasil, eleição de Maurício Macri, na Argentina, tentativa de derrubada de Maduro na Venezuela, para tomada do petróleo, guerra da Síria, com centenas de milhares de mortos, tomada do Iraque, da Líbia, enfim, golpes políticos em vários cantos do mundo decorrentes da movimentação do poder econômico e financeiro, apontam para a retomada do projeto neoliberal ditado pelos oligopólios financeiros e empresariais internacionais.

A população mundial chegará perto de 10 bilhões de habitantes em 2050, contra 7,3 bilhões em 2015, segundo uma análise bianual do Instituto Francês de Estudos Demográficos (INED).

A cada ano a população mundial aumenta em 80 milhões de pessoas, equivalente à população da Alemanha. Os jovens com menos de 25 anos representam 43% de todos os habitantes do planeta.

A Ásia concentra 60% da população mundial, 4,2 bilhões, que devem chegar a 5,2 bilhões em 2052. A maior taxa de crescimento é a da África, cuja população superou um bilhão em 2009 e devendo alcançar dois bilhões em 2044.

A China é o país mais populoso, com 1,35 bilhão, seguido pela Índia com 1,24 bilhão. Em 2025, no entanto, a Índia terá 1,46 bilhão de habitantes e superará a China, com 1,39 bilhão, dependendo da repercussão do fim da política de filho único. A população da Índia alcançará o recorde, 1,7 bilhão, em 2060.

Países mais populosos (China, Índia, Estados Unidos, Indonésia, Brasil, Paquistão, Nigéria) totalizam 3,85 bilhões de habitantes – mais da metade da população mundial.

Toda essa imensa população precisa, evidentemente, construir moradias, se alimentar, se vestir, calçar, estudar, cuidar da saúde, precisa de infraestrutura de transporte urbano, para o comércio, para viajar de ônibus, metrô, moto, bicicleta, avião, trem, navio, barco, enfim, de muito mais do que temos, e que são insuficientes para a população atual.

Ao mesmo tempo, o mundo está mergulhado numa profunda crise econômica, com fortes movimentos de reacomodação dos grandes conglomerados transnacionais, sob comando das nações centrais, dos maiores bancos do sistema financeiro internacional, em razão das demandas de alta proporção dos países mais populosos e dos grandes blocos econômicos.

Além disso, o mundo vive a era das bolhas, fruto mais venenoso da financeirização da economia, com poderosas corporações transnacionais a submeter os Estados nacionais a seus desígnios por meio de mecanismos de especulação financeira e de endividamento criados pela tecnocracia bancária, que se tornaram a causa maior das crises internacionais.

Segundo o professor emérito de Ciências Econômicas da Universidade de Toulouse, François Morin, autor do livro A Hidra Mundial, os 28 maiores bancos detêm recursos superiores aos de dívidas públicas de 200 países do planeta.

Dados colhidos em 2012 mostram que enquanto os bancos têm ativos (bens, dinheiro, clientes, empréstimos, entre outros) que somam US$ 50,3 trilhões, a dívida pública mundial chega a US$ 48,9 trilhões.

Os derivativos, mecanismo especulativo criado pela tecnocracia bancária, utilizados em larga escala pelos 28 maiores bancos, atingiram, em 2016, a cifra de US$ 710 trilhões, o equivalente a dez vezes o PIB mundial. Esses mesmos bancos, organizados em cartel, manipulam as taxas de juros e de câmbio. A movimentação no mercado cambial é uma das maiores do mundo: US$ 6 bilhões diários.

Segundo Morin, cinco dos 28 bancos controlam 51% do mercado. Hoje, 90% da moeda são criados pelos 28 bancos, e só 10% são de responsabilidade de bancos centrais. O sistema clássico de emissão monetária, formado por Casas da Moeda, que imprimem notas para o posicionamento do Banco Central no mercado financeiro, está superado pela violência dos conglomerados bancários.

Bolsa de valores

Entre 1970 e 2008, o mundo contabilizou 124 crises bancárias, 208 crises cambiais e 63 episódios de não-pagamento de dívida soberana, segundo estudos do Fundo Monetário Internacional. Esses indicadores representam três crises bancárias, cinco crises cambiais e quase dois elementos de não-pagamento de dívida soberana por ano.

A crise internacional que eclodiu nos Estados Unidos, em 2006, tendo seu ápice em 2008, provocou estragos inimagináveis nas economias de poderosas nações como dos próprios Estados Unidos, da União Europeia, China, Índia, Brasil, México, Argentina, e outras, com repercussão devastadora sobre países periféricos mais vulneráveis, dependentes de financiamento e comércio externos, agravando ainda mais a crise social e a pobreza no mundo.

Hoje, nos escombros da crise, o panorama é de falências generalizadas em todos os setores, com desemprego estrutural, e ao mesmo tempo um reposicionamento de grandes corporações transnacionais no novo cenário econômico e político mundial, a partir das próprias perdas, com fusões e compras de empresas locais, “na bacia das almas”, ou seja, em situação dramática.

O jornal Valor Econômico, por exemplo, tem publicado, quase que diariamente, negociações de compra de empresas brasileiras por empresas estrangeiras, num processo veloz de desnacionalização da economia.

Tradicionalmente, nos ciclos de crises, as nações centrais buscam compensações de suas perdas nas nações periféricas, por meio de corporações empresariais transnacionais de vínculos coloniais enraizados em tempo idos, principalmente do setor financeiro com ampliação de endividamento público e privado, e de busca de commodities, para processamento de matéria-prima nas suas plantas industriais de alto padrão tecnológico.

O que se observa nos movimentos mundiais da economia e da política, é que o reposicionamento dos oligopólios empresariais transnacionais se deve também à reorganização dos mercados globais, que têm como fator decisivo as demandas de nações superpopulosas, como a China e a Índia, que não dispõem mais de terras suficientes para produção agrícola, e precisam importar não só proteínas, mas outras commodities, como petróleo e minério.

Há disputas internacionais entre gigantescas empresas dos complexos agroindustriais, como por exemplo, a JBS, dos irmãos Batista, envolvidos em escândalos de corrupção no Brasil, que, num golpe de mestre, conseguiram transferir a sede da rolding para os Estados Unidos, onde o grupo tem 56 empresas de processamento de proteínas, e, de lá, dirigem outras tantas em outros países.

No setor do agronegócio, disputam empresas brasileiras, norte-americanas, australianas, argentinas indonésias, e de outros países, assim como no setor de petróleo, minério, e outros recursos naturais, ou seja, as maiores empresas do mundo querem suas fatias.

O Brasil é o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo – sua agricultura é responsável por 24% do PIB do país, está atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia.

O Brasil é uma das maiores potências do mundo em recursos naturais, na produção de proteínas, em tecnologia agropecuária, tem abundância de água, além das reservas de petróleo do Pré-sal, a segunda maior do planeta, e a Petrobras, detentora de tecnologia de ponta, na busca de petróleo e gás em águas profundas, imensas jazidas de minérios, entre eles o nióbio, que colocam o país no topo dos mais ricos em recursos naturais do mundo.

Tem um considerável parque industrial construído e ativo setor de serviços, e uma diversificada pauta de exportação. Entre os principais produtos estão aeronaves, equipamentos elétricos, automóveis, etanol, têxteis, calçados, minério de ferro, aço, café, suco de laranja, soja e carne embalada.

As indústrias de automóveis, aço, petroquímica, computadores, aeronaves e bens de consumo duráveis são responsáveis por 30,8% do PIB.

Nesse cenário dantesco, o Brasil se encontra enredado nas disputas mundiais e foi arrastado para a malha política das nações centrais.

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Os gerentes de interesses externos, que sustentam a pauta política e econômica dos oligopólios transnacionais, instalaram um governo corrupto no país, demonstram controle das instituições, dos meios de comunicação, mudam as leis com extrema pressa para assegurar o arrocho fiscal, a privatização máxima dos serviços e bens públicos, com desnacionalização territorial, para atender às estratégias de negócios financeiros e empresariais transnacionais.

Mas, ao mesmo tempo, a poeira dos escombros do golpe se dissipa, a população começa a enxergar quem é quem nessa história, também assume posições de defesa do país, dos direitos e das conquistas sociais, exige respeito à constituição, ao Estado democrático de direito e realização de eleições diretas, para que o povo escolha o governo que quer para o Brasil.

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