Em outras mãos, Lava Jato faria Brasil dar salto civilizatório

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Imagine se a Lava Jato tivesse sido estruturada com o devido resguardo e conduzido as investigações respeitando rigorosamente as garantias constitucionais, o devido processo legal, e não tivesse se enveredado pela política, pelo espetáculo grotesco, para saciar fome narcísica de alguns de seus integrantes.

 

O Brasil estaria hoje numa situação bastante diferente.

 

A sociedade brasileira teria avançado mais na formação do senso de justiça, na consolidação da democracia, dos direitos e dos deveres dos cidadãos,  e dado um grande salto civilizatório.

 

Isso seguramente repercutiria nas gerações presentes e futuras, com mais ganho de cidadania e desenvolvimento para superação das desigualdades sociais e das misérias nacionais.

 

A justiça é um dos mais valiosos bens de uma nação democrática.

 

Mas está acontecendo exatamente o contrário. O país está vivendo uma situação de devastação institucional, sofrendo um retrocesso histórico, sendo conduzido para as trevas por gente obtusa, atrasada.

 

Em lugar da democracia, o Estado policial se instala com todas suas mazelas.

 

A arrogância, o despreparo, a inconsequência da banda rastaquera de agentes do Judiciário e de seus órgãos auxiliares, mais a banda podre da política, formam um amarelado espetáculo novelizado, apresentado dia e noite nas telas da velha mídia oligárquica, nas redes sociais, de tal forma que ninguém aguenta mais.

 

Conseguiram colocar o Brasil numa situação deplorável, com a instigação do ódio ancestral que alimenta os conflitos sociais da formação da sociedade brasileira, ao invés da promoção pedagógica da justiça como um dos mais importantes valores da democracia.

 

Depois de tudo isso, com o apoio conseguido rolando ladeira abaixo, devido à percepção popular das ações seletivas e da politização da Operação Lava Jato, o juiz Sérgio Moro fala em cansaço, em encerrar os trabalhos e ir embora para os Estados Unidos. Alguns procuradores também.

 

Ou seja, vão embora, quem sabe largar a toga, trabalhar em grandes escritórios de advocacia em New York, Miami, Washington, deixando para trás o Brasil em ruínas e o fascismo crescendo como erva daninha, atacando museus, exposições artísticas, templos religiosos de matriz africana, escolas sendo ocupadas por gente estúpida, com doutrinação religiosa, e o futuro sombrio a rondar o país.

 

O Brasil poderia ter realizado um grande sonho cidadão, com o Judiciário  e os órgãos de fiscalização e controle sendo admirados como referências de cidadania, as raizes da corrupção do poder econômico cortadas e os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário mais autônomos, menos vulneráveis às ações dos lobbies do empresariado nacional e internacional.

 

Porém, essa oportunidade parece perdida.  Após tornar-se poder hegemônico no processo do golpe de Estado, submetido os demais poderes da República ao seu poder de polícia e à  “política baixo clero”, a reputação do judiciário foi ao chão. A confiança foi rompida. Há um abismo entre a sociedade e as instituições.

A seletividade política praticada com a utilização indiscriminada do instituto da delação premiada, mais o laboratório de experiências na aplicação da chamada “teoria do domínio do fato”, contribuiu ainda mais para o esfarrapamento da justiça.

 

O Supremo Tribunal Federal e a 13a. Vara Criminal Federal de Curitiba estão na berlinda, em estado de desmoralização inimaginável, em razão da politização explícita, da violação das garantias constitucionais, do devido processo legal, e do uso de “dois pesos e duas medidas” em decisões sobre políticos de alta plumagem.

 

Por incrível que pareça, o Judiciário e o Ministério Público foram órgãos públicos que mais se beneficiaram no Congresso Constituinte.

 

Conquistaram prerrogativas elevadas ao nível das grandes nações democráticas, após 21 anos de ditadura militar, bancados pelo presidente da Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, originário do judiciário, e pelo relator, o então deputado Bernardo Cabral, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, entre outros.

 

Mas parece que um número considerável das autoridades judiciárias não está à altura das funções que ocupam. Talvez os concursos não estejam conseguindo selecionar pessoas devidamente adequadas. Pode ser que tenham qualificação técnica, mas tem faltado elevado espírito público e compromisso com a democracia.

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