Costurando a fantasia do parlamentarismo para vestir o golpe de estado

 

 

Retirar Michel Temer do cenário com tudo que ele representa, mas sem o longo e pedregoso caminho do impeatchment às vésperas das eleições. Essa parece ser a saída encontrada para o impasse nacional provocado pela paralisação dos caminhoneiros, petroleiros e  outras categorias que aderem ao movimento.

 

As mesmas máquinas do judiciário, do Congresso Nacional e da mídia, que costuraram o golpe de estado para derrubar a presidenta Dilma tecem agora a fantasia do parlamentarismo.

 

Querem vestir o golpe de estado com uma roupa nova para o desfile em outra eleição. Por mais que tenham ensaiado candidatos, até debutantes na política, não conseguiram aprontar nenhum que defendesse o que fizeram com o Brasil. A retumbante paralisação dos caminhoneiros arrancou as últimas máscaras do governo e o “Fora Temer!” ecoou de todos os cantos do país.

 

Não conseguiram realizar o sonho de um candidato neoliberal puro sangue, que pudesse inocular no país todo o ódio que sentem pelo Estado como indutor do desenvolvimento sustentável e o amor às privatizações, com a ajuda dos pierrôs e colombinas do Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua, Revoltados Online, Instituto Millenium, Wilson Center, Atlas Network e outras escolinhas do capitalismo selvagem.

 

A costureira Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, junto com o costureiro Luiz Fux, do Tribunal Superior Eleitoral, mais o menino do Rio, Rodrigo Maia, que faz baínha, arremata e prega botões, correm contra o tempo, pois as eleições vêm aí e os banqueiros e gerentes das grandes corporações multinacionais não querem saber dessa festa eleitoral com o ex-presidente Lula disparado nas pesquisas.

 

Luiz Fux, de armadura medieval e espada em punho, parece estar pronto para o serviço: preparar o cenário, tirar Lula e talvez Bolsonaro das eleições com a “lei da ficha limpa”.

 

Mesmo preso pelo juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Lula, segundo pesquisa Vox Populi, cresceu ainda mais na preferência do eleitorado, chegando a 39% e pode ser eleito no primeiro turno.

 

De auxiliar do golpe a presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia tem demonstrado que agora quer ser o Rei da Xepa com a indumentária parlamentarista.

 

Depois que o ministro Alexandre de Moraes costurou com Cármem Lúcia e Temer, ela resolveu, de uma hora para outra, sacar do baú do STF a Ação Direta de Constitucionalidade, escondida desde 1997, que questiona a possibilidade de mudar o regime de governo por emenda constitucional. A emenda está pronta na Câmara dos Deputados aguardando a decisão do tribunal.

 

Para grandes juristas, a escolha do regime de governo, se presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia já foi feita por cidadãos e cidadãs no plebiscito realizado em 21 de abril de 1993, previsto nas chamadas Disposições Transitórias da Constituição. Ou seja, somente uma Assembléia Nacional Constituinte livre e soberana poderia mudar o regime de governo.

 

Por estar no conjunto das Disposições Transitórias, consideradas “clausulas pétreas”, uma vez cumprido seu objetivo, o dispositivo teria perdido sua validade. Portanto, hipótese vedada. Mas com a costureira Cármen Lúcia e com o costureiro Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, e outros alinhados da Suprema Corte, depois do que fizeram com o ex-presidente Lula, para que ele fosse preso e impedido de ser candidato, tudo é possível.

 

A decisão do STF pela mudança de regime por meio de emenda constitucional está de acordo com todos os absurdos praticados pelo STF para proteger o golpe de estado. Desde o pedido da anulação do impeatchment da Presidenta Dilma engavetado por eles a outras tentativas de resgate da legalidade como a concessão de habeas corpus. Afinal, no Brasil, parece que eles se acham os seres mais próximos de Deus.

 

Todo o espetáculo da provável mudança de regime deve acontecer com a novelização do noticiário e a ajuda retórica de comentaristas da grande mídia “escrita, falada e televisionada”, como dizem, mais os cabrestos eletrônicos das redes sociais criados para o golpe e para a propaganda da ideologia neoliberal.

 

Com isso, eles podem ganhar tempo para preparar o cenário que querem construir, apresentar novos personagens e preparar o candidato com o figurino determinado pela sede do império do norte.

 

Provavelmente não deixará Michel Temer ao relento, tendo em vista os serviços prestados ao grande capital.

 

Quem sabe dar-lhe um trono no Palácio do Planalto, longe do burburinho da política? Ele fica bem como presidente de honra, decorativo. Pode ser uma opção à cadeia, depois da perda do foro privilegiado.

 

Provinciano que é, levaria uma vida de sonhos: tilintar de taças, talheres, em jantares com magnatas ao lado da princesa Marcela Temer, e vagar com os convidados pelos salões do Palácio do Jaburu com sua tagarelice prolixa.

 

Rodrigo Maia, economista, pode vir a ser um eficiente office boy dos grandes negociantes para continuar com a anexação institucional do Brasil ao império. Comenta-se em Brasília que a ideia é afastar do governo todas as pessoas envolvidas com escândalos de corrupção, processos judiciais, trocar por perfis executivos, para corresponder à aversão criada na população a políticos e impactar a opinião pública.

 

Ou seja, as máquinas de costuras estão funcionando para trocar as roupas esfarrapadas do golpe de estado por roupas novas. Mas a festa do governo continuaria a mesma: aprofundar a agenda neoliberal.

 

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