Tudo pelo capital

 

 

 

 

 

 

Michel Temer está só. Um presidente decorativo. Envolto no seu manto de vaidade diante do espelho d’água do Lago Paranoá com olhar perdido no melancólico ocaso político, enquanto o Brasil vive um dos momentos mais dramáticos de sua história. O Lago Paranoá não tem pinguela para o futuro.

 

 

Os chacais do golpe viraram as costas. Foram cuidar de suas vidas, dos negócios, de seus processos na justiça. O país está à deriva.

 

 

Nem Henrique Meireles, poderoso ex-ministro da Fazenda, que prometeu o “Estado mínimo” como presente amarrado com laço de fita amarela, e uma agenda ultraliberal de cortes de investimentos públicos e entrega do patrimônio, tão sonhada pelo tucanato, ficou para apagar a luz do palácio.

 

 

Ao ver o golpe na lona, indefensável, Henrique Meireles disse que quer sua candidatura o mais distante possível de Michel Temer. Talvez ainda iludido com a possibilidade de ser ouvido pelo povo. Mas parece estar saindo de fininho, para em seguida abandonar a candidatura e se juntar com Geraldo Alkmin.

 

 

A política de preços abusivos dos combustíveis que levou o Brasil à crise de abastecimento e um brutal impacto na combalida economia, liquidou definitivamente o governo. Deixou nu, no olho da praça, o projeto dos adeptos do fundamentalismo liberal. Lei de mercado é sinônimo de fila nos postos de gasolina.

 

 

Calaram-se poderosas máquinas de propaganda do liberalismo nas redes sociais. Com agentes preparados em think tanks especializados, movimentam mídias e igrejas evangélicas na conversão de fiéis pregadores de ilusões de progresso pessoal e paraíso na terra.

 

 

As pregações não batem com a realidade da recessão econômica, desemprego em massa, precarização do trabalho, fim do ciclo de oportunidades para os de baixo e aumento da pobreza.

 

 

Evidentemente essas quitandas ideológicas não são coisas dos novos tempos, mas ganharam muita força com as redes sociais e com os meios tradicionais de comunicação, que assumiram a propaganda com mais determinação política e refino na comunicação.

 

 

Desde os anos 1980 e 1990, quando Margareth Tatcher, primeira ministra da Inglaterra, e Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos, encheram as fornalhas das máquinas de propaganda do neoliberalismo, essa nuvem ideológica sob o sol insiste em turvar ainda mais a realidade.

 

 

Na escuridão do sistema, o capital improdutivo arrasta o mundo para a barbárie, para as guerras de assalto aos países produtores de petróleo, engrossa as filas de refugiados, desestabiliza governos, precariza o trabalho, gera desemprego em massa e mais pobreza extrema, com maior incidência nas nações periféricas.

 

 

Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, nos idos dos anos 1990, seduzidos pelo boi de Wall Street, enredaram o Brasil, tardiamente, nas estruturas de sofisticados mecanismos de tecnologias bancárias, arquitetadas por tecnocratas que operam na grande gambiarra eletrônica da especulação financeira internacional, como se no capitalismo selvagem houvesse almoço de graça.

 

 

O liame fez o país refém de poderosos banqueiros, de endividamento, muito difícil de se desembaraçar. Formou-se aqui uma casta de novos magnatas, muitos deles homens fortes do PSDB que fizeram parte da equipe econômica dos governos de Fernando Henrique. Tornaram-se banqueiros com suas corretoras atuando no mercado financeiro. Têm apetite de chacais por privatização de serviços e patrimônios públicos. Pedro Parente é apenas um deles.

 

 

 

A alma dos negócios é predatória e invisível. Opera na sombra. Dotada de imenso poder político e de destruição da economia e das finanças públicas. Atuou nos subterrâneos da conspiração e assumiu posições estratégicas no panorama dos negócios do governo de Michel Temer.

 

 

A ofensiva privatista e queda de Pedro Parente são o que melhor expressa a baixa do projeto do golpe de estado. A drenagem do dinheiro do bolso do povo para o bolso de acionistas das petroleiras com o preço abusivo dos combustíveis foi facilmente percebido por quem foi para as filas dos postos com seus carros.

 

 

Talvez isso explique o pânico das urnas e a ameaça de não haver eleições. O projeto do golpe já está derrotado antes mesmo do debate das eleições. Michel Temer disse que vai aumentar impostos, retirar recursos da área social, da educação, da saúde, na prática, também carrear recursos públicos para remuneração de acionistas das petroleiras.

 

 

Resta saber se haverá eleições. No próximo dia 20, o Supremo Tribunal Federal decidirá se o regime de governo continuará presidencialista ou se será parlamentarista. A emenda constitucional está pronta na Câmara.

 

 

No mesmo pacote de mudanças casuísticas, poderá ser incluída a emenda que unifica o calendário das eleições municipais, estaduais e federais em um só dia, mês e ano. É a justificativa que precisam para o adiamento das eleições.

 

 

Mas nenhum candidato que apoiou a derrubada de presidenta Dilma conseguirá convencer a população de que as razões do golpe e a desastrosa política econômica  de Michel Temer e Henrique Meireles foram melhores para o país.

 

 

Como explicar a recessão, o desemprego de R$ 13,8 milhões de trabalhadores, a entrega das reservas de petróleo e outras riquezas do país a gigantescas transnacionais, mais o presente da isenção de impostos da ordem de R$ 1 trilhão ao longo de 23 anos?

 

 

Além disso, entre outros absurdos, o perdão de R$ 543,3 bilhões, do programa Novo Refis, de dívidas de grandes empresas, mais o perdão de R$ 25 bilhões ao Banco Itaú, R$ 2 bilhões ao Banco Santander, e o rombo nas contas públicas da ordem de R$ 159 bilhões.

 

Temer está só, no vazio das ilusões, no canto da história reservado aos estúpidos, e o povo abandonado à própria sorte.

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