A copa do futebol empresarial

O Brasil não é mais o país do futebol. O jeito brasileiro de jogar foi suplantado pela técnica, que tudo mecaniza, repete como máquina.

Os campos de várzea deram lugar às quadras e às escolinhas. Nada contra.

O futebol arte desapareceu junto com a identidade cultural em campo.

Restaram apenas as cores dos uniformes, as bandeiras e os hinos sisudos, patrioteiros.

Até as dancinhas para comemorar gols foram reprovadas pela imprensa esportiva europeia, consideradas desrespeitosas aos adversários.

A formação dos jogadores é igual em qualquer canto do mundo. Tudo igual!

Quantas disputas nos pênaltis e quantos goleiros fazendo defesas espetaculares! Essa copa é dos goleiros.

A África desponta com um futebol bonito, com lampejos de ginga que a bola pede. Um tico de identidade ainda resiste aos mecanismos técnicos.

Não só isso, não conseguiram conter as arquibancadas, chacoalhadas por danças e indumentárias de cores vibrantes das nações africanas.

Nem as manifestações políticas, denúncias de violação dos direitos humanos, da opressão contra mulheres iranianas, contra o racismo, e pedidos de paz.

Chocou o mundo a ostentação dos magnatas do futebol manifestada no restaurante da carne folheada a ouro, enquanto, perto dali, milhares de imigrantes, trabalhadores escravizados, que ergueram os estádios, luxuosos hotéis, para a copa, estão abandonados à própria sorte, vivendo na pobreza.

Tudo indica que a evolução da técnica vai levar as copas do futebol empresarial a copas de jogadores robôs. A inteligência artificial já é realidade e os magnatas da bola estão a postos, loucos por dinheiro.

Recorro a Caetano Veloso para me salvar da indigestão do conflito.

“… a força da grana ergue e destrói coisas belas”.

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