A causa podem ser os títulos de Doutor Honoris Causa

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Ninguém, no Brasil, foi agraciado com tantos títulos de Doutor Honoris Causa, das mais importantes universidades do mundo quanto Lula, como reconhecimento por tudo que ele fez pela melhoria da vida de milhões de pessoas, pela democracia, pela cidadania, pelos direitos humanos, pelo desenvolvimento do país e pela paz entre os povos. Isso é reconhecido internacionalmente.

No entanto, talvez nenhum ex-presidente da República Federativa do Brasil tenha sido tão desrespeitado, humilhado, achincalhado e injustiçado quanto Lula por certas autoridades e pela mídia senhorial. Esquisito, não? As razões razões de tudo isso vêm de raízes profundas, varando séculos, por mais de 500 anos de colonização.

Impossível olhar o Brasil nesse momento e não ver na paisagem política os conflitos ancestrais emergindo da história, desenhando a crise que solapa as instituições da República.

Aqui, o apartheid social foi instalado nas famílias ainda na infância do Brasil e perdura até hoje. E é lá no aconchego do lar das famílias de classe média e das abastadas onde tudo começa.

A dita “arquitetura moderna” até se encarregou de anexar a “dependência de empregados” (senzala) às residências, um cubículo onde são enfiados os trabalhadores domésticos remanescentes da escravidão que lavam, passam, arrumam, e cuidam dos filhos dos patrões.

O Brasil é o país com o maior número de empregados domésticos do mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT/ONU).

Uma casa sem empregados domésticos no Brasil parece incompleta, tão forte é essa composição familiar na nossa cultura.

Em famílias brasileiras de classe média e média alta crescem filhos e filhas com códigos de convivência forjados na desigualdade, no forno do “nós e eles”, temperados com preconceitos de toda ordem contra os de baixo. Preconceitos latentes nas relações sociais e reforçados por meios de comunicação.

A propósito, nesses tempos bicudos, fico a imaginar como deve ser difícil para certos procuradores, juízes, policiais federais, “jornalistas”, aceitarem Lula, por ser de origem operária, ter sido presidente da República, ter feito valer direitos dos pobres, melhorado a vida de milhões de pessoas, e, como o brasileiro que tem o maior número de títulos de Doutor Honoris Causa, sem ter diploma de curso superior. Difícil engolir, não é?.

Autoridades, muitas delas, quando crianças, criadas com serviçais dentro de casa. E, dentro de casa, sabe-se muito bem como são tratados os empregados, principalmente os negros.

Autoridades que, para alçar-se a postos desse nível na estrutura do Estado, no mínimo, estudaram inglês em boas escolas e tiveram uma formação universitária com dedicação exclusiva, enquanto trabalhadores domésticos lavavam, passavam, cuidavam das residências e serviam-lhes refeições à mesa a tempo e a hora.

Postos nas carreiras de Estado, até o governo Lula, proibitivas para filhos de empregados domésticos, porteiros de edifícios, frentistas de postos de gasolina, e outras categorias, ou seja, gente que o patronato e seus descendentes sequer costumam cumprimentar.

Negros, nessas carreiras, podem ser contados nos dedos.

Lula, o maior líder popular da história do Brasil, está sendo vítima de uma perseguição senhorial de juízes, procuradores, policiais federais e “jornalistas” como se ele fosse o inimigo público número 1 da elite branca patronal, um estrangeiro de classe, um usurpador, um “marginal de periferia” que precisa ser escorraçado da política, porque “o lugar dele é na senzala”, numa fábrica, de macacão, lambuzado de graxa.

Esse tipo de preconceito está entranhado nas células do senhorio e de seus descendentes sem cidadania, aflorado recentemente no país numa onda fascista sem precedentes.

Muitos deles até votaram em Lula em algumas eleições, porque ele representa o ideário do vencedor, um pobre que saiu do Nordeste num pau-de-arara e chegou à Presidência da República.

O vencedor tem seu lugar na escala de valores dessa gente. Porém, ele promoveu a inclusão social, o maior impacto na estrutura tradicional de classes do Brasil. Esse é o crime de Lula. E, por isso, deve ser vingado.

Ele está sendo tratado por juízes, procuradores, policiais federais  como são tratados os empregados domésticos no Brasil, com desdém, com desprezo, como ser humano inferior.

Não o reconhecem como ex-Presidente da República eleito duas vezes por milhões de votos e por ser considerado pelos brasileiros como o melhor presidente da história do país.

As cenas que o Brasil presenciou nos últimos meses promovidas por autoridades judiciárias e “jornalistas”, nas bancadas de telejornais, rádios, revistas, jornais e redes sociais, principalmente na Globo, são cinematográficas. Merecem um filme. William Bonner certamente levaria o oscar de melhor ator, seguido de outros da equipe de jornalismo da emissora.

A decretação da condução coercitiva de Lula pelo juiz Sérgio Moro, o arrombamento, a quebra de móveis e utensílios, do Instituto Lula, e a retirada das senhas dos computadores, são a mais fiel representação da discriminação e do ódio de classe aos de baixo.

Seguramente eles não fariam o mesmo com o Instituto Fernando Henrique, por ser ele um autêntico representante da elite paulistana,  ” gente acima de qualquer suspeita”, digamos.

Aliás, apesar de o Instituto ter sido citado em delações premiadas como receptor de recursos das mesmas empreiteiras que contribuem com o Instituto Lula, nada, absolutamente nada foi investigado no Instituto Fernando Henrique. A mídia tratou logo de esconder o assunto.

O Instituto Lula sofreu uma violenta devassa. As contribuições ao Instituto Lula são chamadas pelas autoridades e por jornalistas de “propina”. As contribuições ao Instituto Fernando Henrique são chamadas de “contribuições”.

O ódio de classe que aflorou nas ruas parece ser o mesmo de certas autoridades da Operação Lava Jato e de certos “jornalistas” a Lula. Esse ódio se retroalimenta.

A causa podem ser os títulos de Doutor Honoris Causa.

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