Rinha humana
Até agora a luta MMA produziu lesões corporais graves, como a fratura da perna de Anderson Silva, em dezembro de 2013, e em outros lutadores mas, que se tem conhecimento, nenhuma morte.
O que farão as autoridades quando acontecer um assassinato decorrente de um golpe fatal, diante dos olhos da platéia e dos telespectadores? O assassino será preso em flagrante? O Código Penal é claro quanto a homicídios de qualquer natureza.
Essa de que entra no ringue quem quer, que as pessoas são livres, não deixa de ser uma hipocrisia. O Estado não poderia legislar sobre o corpo e o livre arbítrio? Então esse mesmo princípio de liberdade vale para o uso de drogas, o aborto, a eutanásia e o suicídio?
A tarefa está com o Ministério Público, que cuida do direito difuso e o Supremo Tribunal Federal, o guardião da Constituição, que precisam se pronunciar sobre a rinha humana.
Tomando como base o princípio do livre arbítrio, os organizadores desse “esporte” podem entender que deve evoluir para o uso de facas ou sabres, como no tempo dos gladiadores. Creio que não faltará público.
Guardadas as devidas exceções, quem assiste a essa modalidade de luta quer entrar em contato com os instintos mais bárbaros do ser humano, quer ver nocaute, sangue, como nos Coliseus?
Classificaram essa luta sanguinária como esporte para regulamentar a rinha humana e com ela, obviamente, ganhar muito dinheiro. Rinhas de galo, de cães e de outros animais são proibidas por lei e a rinha humana não?
A sociedade do espetáculo está indo longe demais, por caminhos cada vez mais sombrios, não bastasse as guerras, os genocídios. O culto à violência está naturalizando a barbárie. Na realidade virtual, jogos eletrônicos concorrem entre si para ver quem oferece mais violência, para um público cada vez mais insaciável. Na vida real, muita gente se identifica com personagens dos jogos e com lutadores de MMA – à imagem e semelhança – com músculos e tatuagens, nas performances de cenas urbanas.
O que teria a dizer os estudiosos da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia, da Antropologia? Não vão se pronunciar? Só depois do primeiro cadáver nas telas de TV?
Pessoas que gostam de assistir a esse espetáculo muitas vezes se dizem ecologistas, protetoras dos animais, mas não perderia uma rinha de cães hottweilers ou de galos.
Muitos rapazes, desses musculosos e tatuados, com seus Poodles numa coleirinha, passeiam por aí, mas não perdem uma luta de MMA. Esquisito, não?
Junto a esse movimento, algo de machismo, intolerância, violência extrema, é latente na sociedade. As notícias de crimes bárbaros crescem e desaparecem no túnel do tempo, deixando para traz a normalização da violência, que nada combina com a harmonia, a paz e a solidariedade desejada pela imensa maioria da população.
Pessoas que atuam na busca da paz, do fim das guerras, da harmonia entre os povos, nos movimentos sociais, de proteção dos animais, não ignorem o que está acontecendo aqui. Um ser humano pode matar outro diante dos nossos olhos, nas telas de TV.
O MMA é legalizado por que é movido por milhões em negócios. Não só as empresas patrocinadoras ganham, mas as empresas de comunicação também engordam seus caixas.
Perguntar não ofende: será que alguma ONG pacifista, ambientalista recebe contribuição de alguma das empresas que patrocinam o MMA? Aos jornalistas “investigativos” de plantão vale conferir e informar quem ganha e quanto com a rinha humana.
Caso as empresas patrocinadoras dessa barbárie sejam clientes da TV, do rádio, do jornal ou da revista, provavelmente ninguém ficará sabendo, por razões óbvias.
O que diriam Mahatma Gandhi, Dalai Lama, John Lennon, Nelson Mandela, os Prêmios Nobel da Paz, enfim, todos os pacifistas do mundo, sobre as rinhas humanas?
Com a espetacularização da barbárie fica difícil cultivar valores da democracia como paz, harmonia, solidariedade e felicidade para toda a humanidade. Rinha humana NÃO!
