O homem falocêntrico, com sua musculatura avantajada e tatuada, adentrou ao Ministério da Educação

Alexanddre Frota

Na segunda semana do governo interino de Michel Temer, o Brasil viu o ator de filmes pornô, Alexandre Frota, com sua musculatura avantajada, tatuada, espremida numa camiseta preta de mangas compridas, adentrar ao Ministério da Educação, para uma audiência com o Ministro Mendonça Filho e seus assessores, a fim de discutir propostas para a educação.

Juntamente com integrantes do Movimento Revoltados Online, (grupo que promoveu mobilizações pelo golpe), propuseram, entre outras coisas bizarras, que o MEC apoiasse a aprovação, no Congresso Nacional, de projetos de lei obscurantistas, inconstitucionais, de censura a assuntos ensinados por professores, em sala de aula.

Ou seja, querem subordinar a liberdade de cátedra e criminalizar ideias.

A audiência com o ator pornô aconteceu na mesma semana na qual uma jovem de 16 anos foi barbaramente violentada por mais de 30 homens, no Rio de Janeiro.

Uma triste coincidência que teve constrangedora repercussão internacional. Por incrível que pareça, no mesmo dia em que completou um ano de outro estupro coletivo de quatro jovens, no Piauí, depois jogadas num despenhadeiro, o que resultou na morte de uma delas.

O movimento de mulheres foi às ruas manifestar solidariedade às jovens e denunciar a cultura do estupro,  a violência contra mulheres, a sociedade falocêntrica e o machismo, tanto no golpe contra a presidenta Dilma quanto na destituição das mulheres que participavam do governo e a nomeação do ministério somente de homens brancos.

Tudo isso aconteceu na esteira das draconianas medidas de cortes de recursos, extinção de ministérios e órgãos das áreas cultural e social, criados para consolidação de direitos garantidos na Constituição de 1988, das camadas mais desfavorecidas e oprimidas, de mulheres, negros, indígenas, crianças e adolescentes.

Ao mesmo tempo, foi nomeado um ministério de negócios, numa evidente demonstração de que o governo provisório de Michel Temer representa mesmo o atraso organizado, que emergiu de fundamentos obscurantistas, das entranhas do mundo da ganância dos rentistas, do fundo dos cofres dos bancos, de gente estúpida que reina nas tribunas e praças eletrônicas das redes sociais, urrando como bestas do apocalipse, e que ganhou as ruas em ondas de intolerância, de ódio de classe, ignorância e violência.

O tal “governo de salvação nacional”, propalado pelo então vice Michel Temer, deu lugar a um governo de salvação de corruptos, com mais de uma dezena de seus ministros investigados e denunciados, e um ministério de gerentes de interesses externos para a venda do patrimônio nacional e privatização de serviços públicos.

Um governo típico do mundo dos brancos ricos, de raízes colonialistas, que ainda veem o Brasil como oportunidade de negócios e nada mais.

Nenhuma mulher, nenhum negro, nenhum indígena, nenhuma participação de categorias populares, nada de políticas públicas de inclusão social e de acesso a serviços públicos.

Para eles, tudo isso é gasto e o governo tem que salvar as margens de lucro dos bancos e das empresas dos efeitos da crise internacional. Os trabalhadores que paguem o pato amarelo.

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O Brasil vive um momento de desagregação social e normativa muito grave.

A desinstitucionalização do país, pela força política das grandes corporações empresariais, principalmente multinacionais, e religiosas, solapam a consolidação da democracia e da cidadania.

O mercado e as religiões mais conservadoras estão asfixiando o Estado republicano e democrático, em construção, num processo de subordinação dos interesses públicos, das liberdades  democráticas e dos direitos, a seus desígnios, de uma forma inimaginável.

Setores do poder público (nos parlamentos, nos executivos, no judiciário e nos órgãos auxiliares como Ministério Público e Polícia Federal) estão sendo tomados por uma onda autoritária, fascista, ameaçadora, desempenhado a função de capatazes da ideologia e dos interesses de grandes corporações empresariais e religiosas, com perseguição política de lideranças e instituições populares, desrespeitando flagrantemente as leis e a Constituição.

Evidente que tudo isso não começou agora, mas aflorou de forma ameaçadora e está tentando se estabelecer.

A desinstitucionalização atingiu os direitos conquistados na Constituição de 1988, não só com a extinção de órgãos e corte de recursos que financiavam as políticas públicas de inclusão social.

Mas ameaçados o direito à educação pública, laica e de qualidade, o direito à saúde pública (SUS), ao meio ambiente e à qualidade de vida, os direitos do consumidor, que estabelece regras às empresas que fornecem produtos e serviços, o direito à vigilância sanitária, o direito ao controle público de medicamentos, o direito à terra para morar e produzir, o direito à habitação, o direito ao trabalho, e outros direitos.

Todos esses direitos e instituições estão ameaçados de mudanças das leis, de preceitos constitucionais, e por nomeações de gente de negócios e religiosos ultra-conservadores para cargos das instituições responsáveis pela garantia desses direitos.

Instituições estruturadas com base na Constituição estão sendo minadas pelo governo ilegítimo que demonstrou, nas primeiras semanas, disposição para colocar por terra as conquistas democráticas, cidadãs, e civilizatórias da sociedade brasileira, em vigor desde a promulgação da Constituição de 1988.

O fracasso do governo provisório de Michel Temer é cada vez mais evidente. Na imprensa internacional, o golpe é golpe mesmo,

Os cortes na área social, a extinção do Ministério da Cultura e de outros, da área social, o apoio de igrejas fundamentalistas, foram tratados com perplexidade por repórteres e comentaristas das agências de notícia internacional, tendo em vista a referência que o Brasil se tornou, no mundo, no combate à pobreza e na inclusão social, nos governos Lula e Dilma.

A imprensa brasileira continua sendo notícia, por ser parte do golpe, e alguns comentaristas brasileiros chegaram a ser motivo de sarcasmo e risos de também comentaristas de grandes redes de notícia, e de Talk Show de TV, pelo cinismo e desfaçatez ao tratarem o golpe como algo grandioso na política brasileira.

Por outro lado, correspondentes estrangeiros, no Brasil, estão sendo atacados pela imprensa nativa.

O jornalista Glenn Greenwald, da CNN, ganhador do Prêmio Pulitzer, nos Estados Unidos, foi ameaçado pelo jornal O Estado de São Paulo, de pedir sua expulsão do Brasil.

Como o governo provisório de Michel Temer está cercado de rejeições por todos os lados, no plano interno e internacionalmente, por ser fruto de um golpe, a imprensa senhorial, nativa, começou a fazer inflexões, a noticiar os fatos negativos do desastroso governo que ela mesma ajudou a empossar. Causou estranheza, talvez por estar sendo esculachada internacionalmente.

Tenta sair das cordas e se redimir perante a opinião pública, do escândalo da participação no golpe. Mas não se livrará da história, que já reservou o seu lugar na ala das abomináveis instituições antidemocráticas.

A recepção do ator pornô, falocêntrico, Alexandre Frota, pelo ministro da Educação, que acolheu suas propostas obscurantistas para a educação, e a nomeação da ex-deputada evangélica, fundamentalista, Fátima Pelaes, para a Secretaria de Políticas para Mulheres, são fatos emblemáticos, que revelam a face obscurantista do governo provisório de Michel Temer.

Fátima Pelais se manifestou contra o aborto, até mesmo em casos de estupro, como está na Lei desde 1984.

Fátima, como que para não fugir à regra do governo provisório, também esteve envolvida em um escândalo de corrupção relacionado ao uso de recursos públicos do Ministério do Turismo, em 2011.

Temer afunda, em poucos dias, nas trevas do conservadorismo, e na lama da corrupção, com a queda sucessiva de ministros investigados, aguardando delações premiadas altamente implosivas, que podem levá-lo definitivamente para o buraco e toda a cúpula do seu partido, do qual foi presidente por mais de uma década.

O Brasil cidadão se levanta, se organiza, tece um grande movimento para reconquista do governo, da democracia, da cidadania, e na defesa do patrimônio público e das riquezas do país.

As grandes manifestações que estão sendo preparadas para o dia 10 de junho, as greves e ocupações por toda parte, a decadência tão veloz e devastadora do governo provisório de Temer, as surpreendentes delações premiadas, podem indicar reviravolta no jogo.

Temer se revelou mais conservador e despreparado do que se esperava. Além disso, montou um governo de corruptos, completamente em contradição com o movimento contra a corrupção, que encheu as ruas em todo o país. Parece que seu governo provisório é mesmo provisório. Não encontra lugar no Brasil.

Tchau Temer.

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