A voz de Tolstoi ecoa até hoje

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Outro dia revisitei a obra de Liev Nicolaevitch Tolstoi ( 1828-1910) e postei no Facebook um comentário sobre minha admiração pela vida e pela obra dele.

Livros são vozes. Confesso que ele reacendeu em mim muitas coisas adormecidas. Duas delas:  o matuto que sou e uma saudade surda de mim. Mas que não me atrapalha. A gente se entende bem.

Que pessoa humana extraordinária foi Tolstoi!

Um príncipe russo que renunciou aos bens materiais para viver uma vida simples, sem posses, no campo, plantando o que necessitava para comer. Ele costurava as próprias roupas e fazia as próprias botas.

Tolstoi simplesmente resolveu seguir radicalmente os ensinamentos de Jesus Cristo. Diziam que ele era um anarquista pacifista.

Tornou-se um dos maiores escritores da história da literatura mundial.

Na juventude, Tolstoi bebia muito, vivia jogando e em companhia de prostitutas. Após sua “conversão” à vida simples, como ele dizia, deixou de beber e fumar, tornou-se vegetariano.

Tudo a ver com uma moçada de hoje que anda ligada na sustentabilidade, na redução do consumo, na vida simples e alimentação saudável.

Tolstoi recusava a autoridade de qualquer governo organizado e de qualquer igreja, por considerá-las instituições a serviço da dominação: os mais ricos e proprietários sobre os pobres, trabalhadores e artesãos.

Não aceitava também o direito à propriedade privada nem os tribunais e pregou o conceito de não-violência.
Sua vida simples e suas ideias influenciaram Gandhi (1869-1948), com quem trocou algumas cartas.

Tolstoi não acreditava em guerras e revoluções violentas como solução para quaisquer problemas, mas sim em revoluções morais individuais que levariam às verdadeiras mudanças.

Ele era contra o militarismo e o serviço militar obrigatório. Era um pacifista.

Abriu mão dos direitos autorais dos livros que escrevia para que sua obra pudesse chegar às pessoas mais simples.

Apenas no momento em que precisou angariar fundos para transportar para o Canadá uma comunidade de camponeses perseguidos pelo governo, ele usou o dinheiro proveniente de sua obra.

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Tolstoi era apaixonado por sua mulher, Sophia, e pelos filhos, mas, acostumada ao luxo e à riqueza, Sophia, que tinha o apoio dos filhos, não aceitou  a vida que o escritor levava.

Sophia cobrava que Tolstoi lhe deixasse um testamento com os direitos autorais das obras. Mas ele não atendeu ao apelo de Sofia, fez um testamento secreto, passou os direitos autorais a um tolstoiano de nome Chertkov, que tornaria sua obra pública.

Aos 82 anos, o grande escritor morreu no dia 20 de novembro de 1910, em Astapovo, provincia russa de Riazan.

Como Tólstoi era uma pessoa carismática e muito conhecida, a notícia da morte dele correu o mundo. O trem funerário que transportou o corpo foi recebido por camponeses e operários que viviam próximos à propriedade de Tolstoi.

O caixão foi seguido por uma multidão de aproximadamente 4 mil pessoas. Temendo que o cortejo se transformasse em grande manifestação, o governo de São Petesburgo proibiu o deslocamento de trens especiais de Moscou.

Mas, como disse nosso Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas.”

Tenho saudade de livros.

(*) A obra dele é vasta, destaco apenas três livros que são referências na literatura mundial: Ana Karenina e Guerra e Paz e A Morte de Ivan Ilyich.

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