Sem perspectiva, PSDB se agarra em Temer

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Luzes do Palácio do Jaburu varam noites, acesas. Temer parece não dormir, acuado e abatido por delatores, não apenas pelos da Odebrecht, mas por outros que ainda não se manifestaram.

Eduardo Cunha, o mais temido, é um pote até aqui de mágoas, por ter sido abandonado no presídio de Curitiba, depois de tramar tantas com Temer à frente do PMDB e tê-lo conduzido ao Palácio do Planalto.

Cunha pode fazer, a qualquer momento, a delação fatal. Ele não tem mais compromisso político com ninguém. A cela dissolve seus dias e a única possibilidade que lhe resta, para poder dormir em casa com uma tornozeleira, é fazer o acordo de delação.

O “Centrão”, grupo criado por ele, na Câmara, com mais de 200 parlamentares, formado por maioria de gente do “baixo clero”, para dar sustentação a Temer e se defender da operação Lava-Jato está dando sinais de que abandonará o barco e apresentará candidato à presidência da Câmara, num outro arranjo político.

Rodrigo Maia, que pelo Regimento Interno não poderia se reeleger, disse que vai recorrer à Mesa e à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, para garantir politicamente sua candidatura à reeleição. A Câmara virou uma casa fora da lei.

Por mais que os tucanos tentem segurar o governo, para cumprir a pauta privatista deles, tudo indica que o desgaste rebaixará ainda mais o partido na opinião pública, que anda muito mal nas pesquisas.

Nos bastidores o clima é tenso. Na votação das dez medidas de combate à corrupção, na comissão, o PSDB roeu as cordas do acordo firmado para a aprovação do projeto. O relator, Onix Lorenzoni (DEM/RS), foi xingado de canalha aos berros por deputados tucanos.

Por outro lado, Temer não representa ninguém, não tem governabilidade, e o PSDB está com seus candidatos (Aécio, Serra e Alkmin) liquidados por denúncias de corrupção, o que pode agravar ainda mais a situação do partido.

A delação de Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, é a primeira. Faltam mais 75, mais do que o suficiente para botar abaixo a cúpula do governo.

Mas o PSDB, o PMDB e outros partidos da base, contam com os passos de tartaruga do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal nas análises dos processos de prerrogativas de fórum privilegiado.

Ligaram o “dane-se” e vão tocar o governo, como sinalizou Fernando Henrique Cardoso ao seu partido: que apoie Temer, mesmo com toda a carga de denúncias de corrupção, desmandos e rejeição da população a ele e ao golpe de Estado.

Eles agora estão juntos no mesmo pântano e não estão nem aí. O PSDB não tem alternativa, na tempestade política, a não ser se agarrar em Temer. Os prováveis candidatos para 2018 estão liquidados.

Apesar da dramática situação, delatados revelam que Temer não vai renunciar. Ele não abre mão do fórum privilegiado, conforma-se com a vida de interino decorativo, com o PSDB mandando e avançando na ocupação dos cargos estratégicos, enquanto tenta anular o acordo de delação da Odebrecht, por ter sido divulgado antes da assinatura.

Rodrigo Janot suspendeu a delação de Leo Pinheiro, da OAS, recentemente, pelo mesmo motivo. Temer está apostando nisso. Janot andou dizendo que ia mandar investigar o vazamento.

Mas ele e o Brasil sabem de muitos vazamentos divulgados pela imprensa antes da Presidenta Dilma ser afastada, mas não há notícia de investigação de nenhum deles. Seria por que foi útil para o golpe de Estado?

A nomeação do deputado baiano Antônio Imbassay, para a Secretaria de Articulação Política da Presidência da República, também citado em delações na Lava-Jato, contrariando o “Centrão”, deve ter consequências danosas para a eleição dos sucessores de Renan Calheiros e Rodrigo Maia, no início do próximo ano.

A nomeação é parte da estratégia de ocupação do governo pelos tucanos. Como não conseguem mais chegar ao poder por eleições diretas, eles estão aproveitando a oportunidade.

A Casa Civil e o Ministério da Fazenda estão na mira dos tucanos. Mas, apesar de Elizeu Padilha estar liquidado pelas denúncias recentes, é possível que ele só saia junto com Temer, no caso de renúncia ou cassação no TSE, por serem velhos parceiros e por ser o que sobrou do núcleo duro do PMDB, dos conspiradores do golpe.

Moreira Franco, além das graves denúncias do delator da Odebrecht, está na alça de mira de Cunha para ser abatido a qualquer momento.

 

A reviravolta na opinião pública traduzida nas pesquisas divulgadas nos últimos dias, mostrou o índice de 51% de ruim e péssimo, 63% contra o golpe de Estado e 91% contra eleição indireta.

 

A situação atual deve ser ainda mais negativa. A pesquisa não registrou o impacto das revelações da Odebrecht, por ter sido realizada antes da delação, e da tomada de consciência da população sobre a reforma da previdência.

 

Eleições indiretas seriam outro golpe e o Brasil não suporta mais a decadência política e institucional combinadas com a depressão econômica.

 

Temer, além de decorativo e subordinado ao PSDB e a grandes corporações nacionais e internacionais, deverá enfrentar processos por crime de corrupção no STF e provavelmente um processo por crime de responsabilidade no Congresso, que o “Centrão” pode segurar ou não nas comissões. Vai depender para onde vai o barco. Se para eleições diretas ou indiretas.

 

As pesquisas de opinião revelam que a população quer definir a saída da crise e exige eleições diretas. Existe uma proposta de emenda constitucional, do deputado Miro Teixeira, que estabelece eleições diretas, caso Temer deixe o cargo. O governo está trabalhando para barrar a emenda no Congresso.

 

Enquanto isso, o ex-presidente Lula dispara nas pesquisas e pode ser eleito no primeiro turno, em eleição direta. A cada pesquisa, os tucanos têm frios na barriga.

 

Os altos índices de Lula parecem ser um sintoma de que a população finalmente está compreendendo o golpe de Estado e seus desdobramentos com alto índice de rejeição aos golpistas.

 

O Ministério Público e o juiz Sérgio Moro correm para tornar Lula inelegível, forjando processos sem provas. Caso isso aconteça, será a desmoralização total das autoridades judiciárias, que entrará para a história.

 

O início do próximo ano promete articulações para realização de uma grande campanha por eleições diretas que poderá isolar o governo.

 

Uma campanha que agregue todos os setores e lideranças comprometidos com a democracia, algo parecido com a campanha das “Diretas já”, que envolveu sindicatos e outras entidades civis, governadores, prefeitos, vereadores, deputados, senadores, com uma pauta mínima de resgate da democracia e convocação da população à responsabilidade de participar da reconstrução nacional.

 

Estão previstas grandes manifestações no início do ano com amplo debate e politização da sociedade.

 

A tentativa dos golpistas de permanecerem no poder a qualquer custo agravando ainda mais a crise econômica e o desemprego, poderá desencadear um grande movimento cívico de renovação e resgate da política e da democracia.

 

Só eleições diretas salva!

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