Os conservadores e a inclusão social

1-1Estive recentemente no Chile e vi de perto a Presidenta Michelle Bachelet ser massacrada dia e noite pela imprensa conservadora. E, quando puxei conversa com alguns chilenos, ouvi a mesma história que ouço aqui: “Está demais! O Chile está um caos, nunca vivemos algo parecido.”

Estão fazendo com Bachelet o mesmo que fazem aqui com Dilma, com Lula e na Argentina com Cristina Kirchner: bloqueiam informações sobre o que o governo está fazendo e pau. Constroem a ideia de caos e fazem acusações de todo tipo. Instalam o ódio nas pessoas de forma subliminar e jogam o povo contra o governo.

Isso acontece com todos os governos de caráter socialista que ousam mudar a ordem social em países capitalistas, principalmente de tradição colonial como a nossa, num regime democrático.

Aconteceu o mesmo com Salvador Allende, presidente socialista do Chile, morto no Palácio de La Moneda, no golpe do general Augusto Pinochet, líder dos conservadores. Veja o filme-documentário “A Batalha do Chile”, de Patrício Gusmán. Está tudo lá igualzinho ao que está acontecendo lá e aqui.

O Chile hoje é o maior produtor de cobre do mundo. O mundo depende do cobre do Chile. O Brasil tem o pré-sal, a maior jazida de petróleo do mundo . O mundo depende de petróleo.

Veja o filme-documentário “The Corporation”, para ver como as mega corporações elegem e depõem governos. Veja o filme-documentário “Iraque à Venda” para ver como grandes petroleiras tomaram de assalto o petróleo do Iraque com um exército de mercenários contratados por empresas de segurança dos EUA (29 mil homens) e enforcaram Saddam Hussein. O mesmo fizeram com a Líbia, mataram Muammar al-Gaddafi, tentam fazer com a Venezuela e com outros países. As petroleiras dispõe de forças armadas privadas.

No Brasil, a ascensão e inclusão social de dezenas de milhões de pessoas mexeram com toda a ordem social tradicional do País. Há uma reação dos conservadores contra essa mudança, algo que acontece com pessoas que poderiam estar a favor das mudanças que estão acontecendo no País. Os sintomas estão nos fatos.

Lembra-se dos “Rolezinhos”? Os adolescentes que começaram a frequentar os shoppings em grupos para fazer fotos e postar no Facebook, num gesto de celebração de sua ascensão social, do seu poder de compra, foram tratados como ameaça, como horda de bandidos. Um juiz de São Paulo chegou a conceder uma autorização para o shopping impedir a entrada dos jovens.

Lembra-se da “glamourosa” professora carioca que postou no Facebook seu inconformismo com um senhor que trajava camiseta regata, chinelo de dedo e saboreava um sanduíche no saguão do aeroporto do Rio, comparando o aeroporto com uma rodoviária?

Lembra-se da senhora de um condomínio de luxo em Brasília que comprou uma briga num salão para expulsar a empregada doméstica de uma amiga que cuidava das unhas e dos cabelos no mesmo salão frequentado por ela?

Pois é, os conservadores estão impactados com essa nova ordem, impactados com a insubordinação dos que ganharam poder, postura, e pleno emprego. O PT, ao longo de sua história, organizou, deu voz e ação para essa imensa parcela da população brasileira. Talvez por isso o PT sempre foi tratado como um intruso na política brasileira. Por mais que o partido tenha feito concessões, os conservadores nunca perdoaram o PT por ter organizado a base da pirâmide, chegado ao poder e aliviado os de baixo do peso da dominação de classesse. Assim como nunca perdoaram Getúlio Vargas por ele ter instituído o contrato de trabalho (CLT), e outros direitos sociais, e criado estatais estratégicas para o desenvolvimento como a Petrobras para avançar na independência do País.

Os incluídos socialmente hoje têm celular, computador, geladeira, TV, conta bancária, viajam de avião, frequentam restaurantes, shoppings, a empregada usa o mesmo perfume da patroa, como bem lembrou Lula, outro dia, têm seu carrinho, constroem ou reformam suas casas, enfim, melhoraram de vida. Estão protegidos da grande crise internacional com a estratégia do emprego.

As “dependências de empregados” das residências das classes média e média alta, melhor dizendo, a senzala, que a arquitetura “moderna” levou para dentro de casa, estão virando depósitos de qualquer coisa, porque os empregados domésticos tiveram seus direitos igualados com os demais trabalhadores, não querem mais morar na casa do patrão, nos cubículos antes destinados a eles. O patrão e a patroa não controlam mais o voto dos seus empregados, nem dos porteiros dos edifícios.

Essa reação dos conservadores e esse incômodo de setores das classes média e média alta com a nova ordem foram muito bem aproveitados pela oposição, e pela imprensa que serve a ela, na construção subliminar da “necessidade de mudança”, pregada pela oposição em parceria com a grande mídia. Na campanha eleitoral virou slogan de Aécio e Marina. Aécio chegou a dizer que ele iria varrer o PT do poder, como se o Estado fosse uma propriedade dos ricos e a ocupação de cargos por pessoas do PT fosse uma anomalia da República e não um direito na democracia. Na democracia os conservadores perdem sempre.

O Chile não tem desigualdade tão grande como a do Brasil, não tem uma herança colonial racista como a nossa, mas tem um conservadorismo tão impregnado de ódio de classe quanto o do Brasil. Lá os conservadores comemoraram o aniversário do golpe de Pinochet com três atentados a bomba.

Tem também imensas jazidas de cobre, assim como o Brasil tem de petróleo, recursos estratégicos no mundo de hoje, cobiçados por mega corporações multinacionais e mega empresas de comunicação, aliadas para jogar o povo contra os governos de caráter socialista e viabilizar governos favoráveis aos seus negócios.

Essa parceria das grandes corporações de mídia com os grandes negócios multinacionais, potencializada nas redes sociais, criou o “Brasil caos” completamente descolado da realidade. Hoje parece que somos dois brasis.

As candidaturas da oposição (Aécio e Marina) apoiadas pelos conservadores, têm reforçado os códigos empresariais e religiosos predominantes e regentes da sociedade, ameaçado conquistas democráticas de redução da desigualdade e de afirmação de direitos humanos. Aqui os conservadores não admitem sequer a cidadania do povo, a afirmação de direitos.

O desafio agora é fazer com que a cidadania possa superar as reações dos conservadores, a força dos grandes negócios, principalmente dos bancos que puseram um pé na candidatura de Aécio e outro na candidatura de Marina, na tentativa de subordinar o Estado ao mercado com a autonomia do Banco Central e a privatização de empresas públicas.

Além disso, é necessário organizar a defesa do petróleo do pré-sal, recurso estratégico para o desenvolvimento do País e superação da desigualdade. Essa riqueza corre risco. Caso os conservadores eleja um de seus candidatos, certamente o Estado perderá o controle para os grandes grupos ligados aos negócios de petróleo.

Aqui como no Chile e em outras partes do mundo, a política está sendo destruída, transformada na inimiga pública número um, no mal dos tempos. Querem que o povo baixe a cabeça, trabalhe, consuma e deixe o destino da nação nas mãos do “Senhor Mercado”.

 

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