Quem votou em Dilma votou no traidor Temer

“Quem votou em Dilma votou em Temer”, é o que costuma dizer quem foi às ruas apoiar o golpe de Estado tramado pelos perdedores da eleição. Quem diz isso, parece querer anistiar os equivocados que perceberam tardiamente a manipulação da qual foram vítimas.

Ocorre que a história viva documenta fatos concretos para que a verdade possa prevalecer sobre a mentira. Logo no início do segundo mandato de Dilma, o Brasil foi surpreendido quando o “aliado” Temer deixou escapar do seu caráter dissimulado uma das piores misérias humanas: a traição. Revelou-se um perigoso conspirador.

Imediatamente se aliou ao candidato adversário nas eleições de 2014, Aécio Neves, derrotado por Dilma e pelo próprio Temer, ao então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, hoje preso por corrupção, para depor Dilma. Além disso, a operação Lava-Jato, com prisões espetaculosas e cobertura novelizada pela mídia, tornou-se uma espécie de combustível da máquina do golpe.

A estrutura política montada, desde o suspeito relatório do Tribunal de Contas da União, que serviu de base para a formulação do processo por crime de responsabilidade e o impeachment de Dilma no Congresso Nacional, passando pelo pool de mídia tradicional de TV, rádio, jornais e revistas, velho conhecido de outros golpes de Estado no passado, até as redes de sites de apoio, arrastaram multidões para as ruas.

Os mesmos manifestantes que bradavam contra a corrupção e “Fora Dilma” empunhavam cartazes com dizeres “Somos todos Cunha”. Líderes das mobilizações foram à Câmara se reunir e posar para fotos com Eduardo Cunha, Aécio Neves, Romero Jucá, e outros políticos corruptos, delatados, investigados, processados por receber propinas de esquemas de financiamento de campanhas eleitorais do poder econômico.

Temer traiu, tramou o golpe de Estado para trocar o projeto de desenvolvimento sustentável e inclusão social dos governos Lula e Dilma, aprovado nas urnas em quatro eleições sucessivas, pelo projeto derrotado de Aécio Neves e do PSDB. Quem votou em Dilma não votou no projeto antinacional do PSDB, que Temer está impondo a ferro e fogo no Brasil. Essa é a diferença.

Temer tornou-se um despachante do PSDB. Nomeou os mais importantes quadros do PSDB e está entregando aos golpistas o que prometeu, a toque de caixa: o projeto do PSDB, de desmonte da Constituição, do Estado, reduzindo-o ao mínimo, retirada de garantias cidadãs, de direitos sociais, fim da previdência social pública, subtração de direitos trabalhistas, redução da renda do trabalho com a aprovação da lei da terceirização, entrega do patrimônio público nacional, principalmente para estrangeiros, de nossas riquezas como as do petróleo e gás, venda de grandes extensões de terras raras, com mananciais de água potável, minério e pedras preciosas, e outras barbaridades de desnacionalização da economia brasileira. E, quem sabe, um acordão para absolvição, no judiciário, dos envolvidos no esquema de corrupção investigado pela operação Lava-Jato, que apoiam seu governo.

O PMDB se transformou numa escola de traição e de corrupção. Foi às ruas no movimento Diretas Já, iniciado em 1983, com os deputados Teotônio Vilella e Ulysses Guimarães à frente, e não garantiu a aprovação da Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que restabelecia eleições diretas, mesmo com as pesquisas de opinião indicando apoio de 84% da população à emenda. O partido preferiu participar do famigerado Colégio Eleitoral, criado pela ditadura, e eleger Tancredo Neves por eleição indireta, que depois da morte e de um imbróglio jurídico acabou entregando a presidência da República ao vice José Sarney, ex-Arena e PDS, partidos que davam sustentação à ditadura.

O PMDB apoiou Sarney, depois rompeu com ele; apoiou Collor e em seguida foi decisivo no impeachment dele; apoiou o ex-presidente Itamar Franco, que havia deixado o partido e se filiado ao PRN para ser vice de Collor; abandonou Itamar e apoiou Fernando Henrique Cardoso, permanecendo aliado ao PSDB durante dois mandatos. Deixou o PSDB e aceitou o convite de Lula e depois de Dilma para fazer parte do governo de coalizão. O presidente do partido, e vice de Dilma, Michel Temer, traiu e derrubou Dilma.

Ou seja, quem foi às ruas apoiar o golpe de Estado, apoiou o projeto Temer/Aécio. Muitos por convicção. Outros por terem sido enganados. Os enganados, os envergonhados, deviam se juntar aos traídos para retomar o Brasil das mãos dos golpistas.

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