Temer se aproxima da marca do descarte
As eleições de 2018 correm risco de ter o maior número de abstenções de nossa história.
Uma parte considerável das pessoas que foram às ruas apoiar o golpe de Estado pode não apoiar candidatos da direita que já se apresentam, como João Doria e Jair Bolsonaro.
Eles não têm projeto para o país, representam a perpetuação da crise.
O Brasil é um país de regime presidencialista de coalizão. As próximas eleições, na lógica eleitoral predominante, exigem uma forte liderança e amplo acordo de forças políticas nacionais.
Candidatos como eles não têm estofo político para alinhavar um projeto nacional dessa magnitude, a fim de sedimentar abrangente base de apoio, nem capacidade de articulação necessária.
Apenas o discurso inflamado, de bravatas neofascista e marquetagem neoliberal não garantem voto na urna de Norte a Sul do país.
Não há como Bolsonaro e Doria fazerem campanha sem a sombra de Temer. Eles apoiaram o golpe de Estado, o governo, e terão que se posicionar no debate. Vão apoiar as tais reformas de Temer ou vão se afastar e criticar?
O PSDB, que apoia incondicionalmente e está em peso no governo, vive duplo desgaste: a responsabilidade pelo desastre econômico e um momento dramático com gravíssimo envolvimento em escândalos de corrupção de seus mais importantes quadros políticos, possíveis candidatos, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin à sucessão de Temer.
Fazer o mal de uma só vez, e às pressas, como recomenda Maquiavel, foi um erro fatal de Temer e do PSDB, num momento de imensa frustração e crescente rejeição popular.
A reforma da previdência, da CLT, sanção da Lei da Terceirização, e as ações anti-nacionais, entre outras, estão causando desgaste devastador no governo Temer.
Fernando Henrique reafirmou apoio ao governo até o fim, evidentemente porque o PSDB não tem outra alternativa a não ser se agarrar em Temer. Estão afundando juntos.
Grande parte dos manifestantes de direita estão ressentidos, cansados, se sentindo traídos, vítimas de um golpe dos golpistas.
A promessa de melhoria de vida não veio. Veio a depressão econômica e o desemprego em massa. Vide o fracasso das manifestações convocadas para o dia 26 de março. O golpe está nu. As ruas estão abandonando os golpistas.
Sem Eduardo Cunha e sem Renan Calheiros, para operar a base de sustentação do governo, Temer se aproxima da marca do descarte. Cunha está preso e deve fechar acordo de delação premiada a qualquer momento. Dele, Temer não escapará.
Quem conhece o Congresso Nacional sabe que, quando começa a entrar água pelas rachaduras do barco, a tripulação parte para salvação de sua própria vida política e pula para outro barco. O PMDB é mestre nisso.
Os parlamentares que têm projeto político de se candidatar a governador, senador, ou à própria reeleição, em 2018, começam a desembarcar de governos, com baixa popularidade, no segundo semestre do ano anterior ao ano eleitoral. Por isso a base no Congresso está inquieta com o “estado xepa” do governo e começa a se desmanchar.
O descolamento de Renan Calheiros é o melhor exemplo. Está sendo seguido por parlamentares não só do PMDB, mas de outros partidos, tendo em vista a ruína do governo e os altos índices de popularidade do ex-presidente Lula, mesmo sendo perseguido pelos agentes da Lava-Jato e atacado dia e noite pela mídia que apoia o golpe.
Soma-se a isso mais oito governadores do Nordeste que declararam apoio ao ex-Presidente Lula.
A reforma política deve aprovar o financiamento público de campanhas eleitorais. Ficará mais difícil gastos exorbitantes sem que seja percebido denunciado.
A crise política parece ter mexido com a consciência do eleitor e com a responsabilidade que ele tem com o voto. Isso pode trazer surpresas às próximas eleições.
A tensão latente contra o governo, carregada de repulsa, se espalha por todos os setores da sociedade. As urnas podem se transformar em lugar de protesto contra a decadência política e institucional do país.