Bons ventos da Inglaterra
Enquanto o Brasil sofre as agruras de um golpe de Estado, tramado por maioria parlamentar do Congresso Nacional, gente do judiciário, com apoio da mídia, para colocar um governo ilegítimo, corrupto e incompetente, na Presidência da República, a fim de impor uma pauta de reformas neoliberais do grande capital, que subtrai direitos sociais e ambientais, privatiza bens, serviços públicos, e submete o país a um arrocho fiscal mais draconiano do que é imposto à União Europeia, a Inglaterra diz nas urnas que quer rever a política e o modelo neoliberal.
Jeremy Corbyn, com seu programa “Governar para muitos, e não para poucos” puxou o fio da meada da esquerda europeia, talvez do mundo.
Depois de quatro décadas de políticas de privatizações, iniciada por Margareth Tatcher, forças democráticas e socialistas inglesas estão dando a volta por cima, com a juventude à frente puxando um forte movimento que impactou movimentos tradicionais de esquerda, principalmente o Partido Trabalhista.
O Partido, que havia entrado num ciclo de decadência, sob a liderança de Tony Blair e outros, se acomodado na franja de poder dos correligionários de Tatcher, parece ter se dado conta de que o povo não aceita mais o privatismo e as políticas de arrocho fiscal dos últimos governos. Ressurgiu do poço das derrotas e ouviu as vozes das ruas.
O Manifesto de Jeremy Corbyn, que deu a linha política das eleições, caiu como luvas nas mãos de uma fatia considerável dos ingleses. O eleitorado quer ver as propostas da oposição ao neoliberalismo concretizadas em medidas.
Corbyn propõe o resgate do sistema de saúde pública e gratuita desmontado nos últimos governos.
Quer resgatar a Educação pública, fazer uma reforma no ensino começando pela recuperação dos salários dos professores, aviltados pelas políticas de arrocho, e reduzir o número de alunos por sala de aula, entre outras medidas.
Acabar com a cobrança de mensalidades nas universidades, introduzida pelos conservadores e mantida pelos trabalhistas.
Elevar o valor do salário mínimo, reverter a progressividade da idade mínima para aposentadoria, tendo como base pesquisas que demostram o aumento invisível da jornada de trabalho em função das novas tecnologias.
Ele quer debater também medidas que compensem a perda de postos de trabalho provocada pelo aumento veloz da automação na indústria e no setor de serviços
Corbyn diz claramente que é necessário mais impostos para os ricos e as grandes empresas, em especial a aristocracia financeira, para financiar a distribuição da renda.
Além disso, ele quer rever as políticas de privatização iniciadas por Tatcher, a reestatização imediata das ferrovias, dos transportes urbanos, do abastecimento de água e dos correios, entre outros bens e serviços.
Defende que metade dos ministérios sejam geridos por mulheres, revisão da política externa e o fim do alinhamento com os Estados Unidos.
Corbyn bate forte nas políticas neoliberais. Diz: “bens e serviços essenciais, concessões e propriedades não podem ter como finalidade enriquecer ninguém, mas atender com qualidade as necessidades da população”.
Os ventos que estão soprando da Inglaterra, impulsionados principalmente por jovens, mostram o descortinar de um novo cenário político com perspectivas de retomada de posições das forças democráticas e socialistas.
Que os bons ventos da Inglaterra soprem com força para todo o mundo.