“Meu cachorro não morde”
São muitos os acidentes provocados por cães, devido a negligências dos donos. Precisamos discutir a multiplicação da população de caninos e os cuidados com os animais antes que seja tarde.
Outro dia fui atacado, na quadra onde moro, na Asa Norte, em Brasília, por um cão na rua, solto da coleira pelo dono e sem focinheira.
Andava distante do animal, atravessando o gramado de um campo de futebol, à noite, com fraca iluminação. O cão correu em minha direção perseguindo meu vulto e me atacou.
O dono, em vez de ficar do meu lado para me defender, dizia que seu cão não mordia, que o ataque aconteceu porque o animal não ouviu os comandos dele. Ele defendia o cão.
O sujeito parece ter a ilusão de que ele comanda as mandíbulas do cachorro com um controle remoto.
É muito constrangedor. Não fui mordido porque tive a sorte de alcançar, no chão, um pedaço de pau e me defendi enquanto o dono se aproximava dizendo palavras com o animal como se estivesse falando com uma pessoa. O cão latia ensandecido a procura de um flanco para me morder.
É desrespeitoso, falta de cidadania dos donos ou donas de cachorros. Parecem não ter noções elementares de convivência em sociedade e o que é um animal.
Essa história de sair para passear com cães e solta-los da coleira, sem focinheira, está virando moda, com o argumento de que os instrumentos de proteção contra ataques oprimem o animal. Isso não pode continuar.
Cães criados confinados em apartamentos ou casas cercadas de grades, em ambientes limitados e inóspitos ficam agressivos sim e os donos precisam entender que cachorro é cachorro. O fato de tê-los domesticado não dá direito de fazer o que querem com os animais.
As autoridades precisam tomar providência antes que seja tarde. Uma rápida pesquisa na internet dá a dimensão do problema. Os acidentes são pavorosos, com vários casos de mortes. O maior número de acidentes ocorre com crianças.
Pesquisas mostram que a maioria dos ataques acontecem em casa. Se acontecem em casa com os donos, a possibilidade de ataques a estranhos na rua é muito maior, caso as regras determinadas por Lei não sejam cumpridas.
Criaram um folclore em torno do cachorro, alimentado pela mídia, que por razões econômicas, venda de produtos, escondem os acidentes.
Muita gente embarca nessa repetindo falsas convenções sobre os animais convenientes ao comércio.
Os cães estão sendo associados a celebridades e colocados frequentemente em programas de TV, rádio, revista, jornais e na internet, diariamente.
Os negócios envolvendo cães e gatos são altamente lucrativos. Movimenta uma enorme cadeia produtiva. Há estudos e projeções preocupantes para o futuro, que prevêem disputa de proteína com os humanos, além de outros problemas, tendo em vista a disparada do crescimento populacional de animais domésticos nas últimas décadas.
A domesticação de animais, ao longo do tempo, por si só, é uma violência. Ainda mais nos dias de hoje, com o confinamento em habitações inóspitas até para seres humanos, em ambientes urbanos como os de hoje.
Em comentários postados no meu perfil, no Facebook, muita gente repetiu que o cão me atacou porque eu estava com medo e exalei cheiro provocado por hormônio do medo. E daí? Se uma pessoa exala esse cheiro, percebido pelo animal, a culpa do ataque é da vítima e não do agressor?
A lógica desse argumento é a mesma dos feminicídios. O homem é o agressor, mas a culpa é da mulher agredida.
Nasci e me criei no campo até os 18 anos, lidando todos os dias não só com cães, tive vários desde criança, mas com animais de todo tipo: vaca, cavalo, cachorro, gato, coelho, porco, galinha, pato, papagaio, sem falar dos não domesticados.
Não tenho medo de cachorros, lido muito bem com eles, gosto até de ensinar-lhes brincadeiras. Conheço razoavelmente animais. Por isso me sinto à vontade para lidar com esse assunto.
Meu conhecimento sobre animais não vem de manuais, de códigos discutíveis introduzidos por pessoas urbanas, que nem sempre têm conhecimento de fato, de vivência, experiência, convivência diária com várias espécies.
Esse assunto precisa ser debatido com senso de realidade antes que seja tarde.