Robôs ameaçam a civilização e a reforma trabalhista ajuda

Robôs

A mecânica é uma extensão dos nossos músculos, veio da alavanca.

Deu-nos a revolução industrial, os motores que movem automóveis, trens, navios, aviões, foguetes, drones e outras invenções.

Essas máquinas extraordinárias são extensões dos nossos braços, das nossas pernas, para nos poupar força física e nos levar a lugares distantes.

Rádio, telefone, câmera fotográfica, TV, cinema, são extensões da nossa boca, dos nossos ouvidos e dos nossos olhos, para alcançarmos o que está longe de nós.

O computador, extensão do nosso cérebro, evoluiu para a inteligência artificial, criação de robôs que, em pouco tempo, reproduzirá praticamente todas as funções humanas.

Mas nenhuma das mais perigosas invenções, nem a bomba atômica ou a de nêutrons, havia ameaçado a existência da civilização como a inteligência artificial.

Recentemente, numa reunião de governadores dos Estados Unidos, em Rhode Island, o empresário Elson Musk, criador da Telsa Motors, produtora de carros elétricos, fez um apelo para que leis e órgãos públicos sejam criados, o mais rapidamente possível, a fim de controlar o desenvolvimento da inteligência artificial e proteger a sociedade.

Elson Musk alertou as autoridades para que tomem providências antes que seja tarde, pois a possibilidade de robôs aparecerem nas ruas matando pessoas, por exemplo, é real e iminente, diz ele.

Novos estudos preveem para os próximos 20 anos ou até antes disso, invasão de robôs, em escala, nas atividades produtivas e de prestação de serviços.

Mas a maior de todas as ameaças é a matança dos empregos. A inteligência artificial associada ao capital improdutivo está devastando os empregos.

Em 20 anos, nos Estados Unidos, não haverá mais volantes nos carros, prevê o CEO da Telsa.

O setor de transportes será o mais afetado nas próximas décadas, diz Musk, e toda a indústria segue o mesmo caminho, trocando pessoas por máquinas automáticas e robôs.

Os empresários dizem que os robôs nunca estarão cansados, não adoecem, serão mais capazes, baratos, mais produtivos e farão o trabalho muito melhor do que os seres humanos.

O mais dramático é que nenhuma das categorias de trabalhadores escapará da tragédia social.

Nem a categoria de jornalistas que prestam serviço de informar sobre um assunto como esse será poupada. A Google desenvolveu um “jornalista robô”, que produz 30 mil notícias por mês.

Imagine maquinas produzindo notícias falsas, manipulando informações, derrubando governos, causando conflitos, guerras entre nações.

Karl Marx dizia que o desenvolvimento de tecnologias e os produtos delas, numa sociedade socialista, teria como o mais importante objetivo o bem comum.

Produzir máquinas, por exemplo, para realização de penosas tarefas dos operários, num sistema de socialização dos meios de produção, seria para homens e mulheres trabalharem menos.

Assim, sobraria tempo para a convivência familiar, para educar os filhos, estudar, ler, ir ao teatro, passear, viajar, enfim, viver melhor. Isso sim, seria uma sociedade moderna, civilizada.

Mas numa sociedade capitalista, os donos do capital se apropriam das tecnologias, dos produtos delas, no caso, as máquinas, para multiplicar os lucros dos proprietários e o número de desempregados.

Segundo estudo da consultoria McKinsey, 45% das atividades existentes podem ser automatizadas. Nos Estados Unidos, isso corresponde a US$ 2 trilhões em trabalho remunerado, ao ano.

Os empregos estão desaparecendo na mesma velocidade do crescimento da inteligência artificial e da acumulação do capital nas contas bancárias de poucas pessoas.

A financeirização da economia nunca produziu tanto capital improdutivo, tantas bolhas especulativas e tanto desemprego estrutural.

E ai de quem falar em regulação do mercado financeiro. Para os especuladores, é uma heresia.

Elson Musk, tão preocupado com a possibilidade de um robô  atacá-lo na rua, quer a regulação da inteligência artificial, mas afirma que não quer a regulação do capital.

Não se importa com a megaconcentração do capital improdutivo, especulativo, e de seu rastro de morte pelo mundo.

Segundo a ONG britânica Oxfam, os oito homens mais ricos do mundo possuem riqueza equivalente à da metade mais pobre do planeta, que soma 3,6 bilhões de pessoas.

Os 28 maiores grupos financeiros movimentam quase US$ 2 trilhões por ano.

Desses, o Goldman Sachs, o JP Morgan Chase, o Bank of America, o Citigroup, e o Santander, entre outros, têm, nas contabilidades deles, mais de US$ 50 trilhões de dólares.

O PIB mundial soma cerca de US$ 75 trilhões. Ou seja, esses bancos detêm cerca de 68% de todo o fluxo mundial do capital.

Banqueiro

Enquanto isso, o desemprego torna-se um dos maiores problemas sociais do mundo.

No Brasil, depois do golpe de Estado de 2016, 14 milhões de trabalhadores perderam o emprego. Desse total, 31,8% são jovens entre 18 e 22 anos, os mais afetados pela falta de qualificação.

Nessa mesma faixa etária, 30% não trabalham nem estudam. O que será dessa geração se não tiver o mínimo de qualificação técnica?

Para agravar ainda mais a situação, a reforma trabalhista e a lei da terceirização, leis selvagens aprovadas por Temer, fazem do Brasil um país de biscates, de freelances, que poderão receber pagamentos apenas contra recibos, pela venda do seu trabalho, sem direito a mais nada, dependendo do acordado com o patrão, evidentemente negociado em condição desfavorável ao trabalhador.

O número de demissões e recontratações, com salários mais baixos, deve provocar um drástico empobrecimento dos trabalhadores, podendo a redução da renda chegar à metade. Consequentemente, os patrões ficarão mais ricos.

A reforma trabalhista, fraudulentamente vendida como “modernização” tem como um dos objetivos  preparar o Brasil para o desemprego estrutural, principalmente na indústria, provocado pela intensa automação no setor nos próximos anos, e empurrar os trabalhadores para o setor de serviços, também impactado pela inteligência artificial, mas em menor intensidade.

As mudanças nas leis trabalhistas são exigências antigas do patronato nacional associado a empresas multinacionais, que estiveram na pauta no Congresso Nacional durante o governo Fernando Henrique Cardoso, mas não conseguiram aprová-los-las.

O fundamento, para aprovação da reforma, era baseado no tal “custo Brasil”.

Com a retomada do poder pelos setores conservadores remanescentes do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2016, o fundamento mudou: dizem agora que o mercado de trabalho está se diversificando e que, com a inteligência artificial, para cada emprego perdido surgem outros.

No entanto, não é o que está acontecendo na Europa, em países duramente afetados pela crise internacional como a Espanha, Itália, Portugal e França.

Esses países estão discutindo a revisão das mudanças feitas nas leis trabalhistas, em razão da crise, porque a tese da corrente que diz que a cada posto de trabalho extinto surgem outros, não está se confirmando. O desemprego estrutural está aumentando.

Há algum tempo, setores do empresariado vêm discutindo ideias que possam evitar a inviabilização do sistema capitalista causada por suas próprias contradições.

Recentemente, Mark Zuckerberg, dono da Facebook e outras megaempresas do setor, surpreendeu estudantes e acadêmicos da universidade de Harward, com um discurso radical em defesa da criação, pelo Estado, de uma renda mínima para cidadãos custearem despesas básicas como alimentação, moradia e saúde.

Zuckerberg foi mais longe, convidou a universidade para discutir o que ele chamou de “novo contrato social”.

Renda mínima é uma ideia aventada desde a Antiguidade. Ganhou força nos anos 1970, nos Estados Unidos, nos anos 1980 e 1990, em países como Suíça, Suécia, Canadá, Finlândia, Quênia, Escócia, Espanha, e, no Brasil, com o ex-senador Eduardo Suplicy, que conseguiu aprovar um projeto de lei criando a renda mínima para o cidadão, mas que nunca foi regulamentado.

A ideia é doar um salário mensal sem contrapartida de trabalho por parte do beneficiado. É uma renda para gastar. Alguns países estão testando projetos de renda mínima para depois formular política pública.

No Parlamento Europeu, o assunto tem sido discutido em pequenos grupos, com a perspectiva de ser incluído na pauta de debates da União Europeia, como prioridade, nos próximos anos.

Enfim, chegou-se ao óbvio. Sem emprego, sem renda, não há dinheiro para comprar os produtos produzidos pelas máquinas.

Os capitalistas mais inteligentes começaram a se mexer, não porque estão preocupados com as famílias afetadas pelo desemprego estrutural, com a imensa desigualdade, com a pobreza, mas porque estão em busca de solução capaz de evitar a inviabilização do sistema capitalista.

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