Paulo Guedes faz de Bolsonaro seu office boy

 

Paulo Guedes, que Bolsonaro dizia ser seu consultor para assuntos gerais, seu “frentista do posto Ypiranga”, foi se embrenhando no governo e fazendo do presidente da República seu office boy. Firmou-se como gerente-geral, principalmente de interesses das grandes corporações e bancos internacionais, e submete os demais ministérios aos seus mandos.

 

As paredes dos edifícios da Esplanada dos Ministérios têm vazado informações de que Paulo Guedes está de fato governando, com Bolsonaro reduzido a despachante. Ministros andam bicudos, por estarem sendo conduzidos com rédeas curtas por Guedes.

 

Um tanto inconformado com seu tonto office boy, por tentar a todo custo manter-se na mídia, Guedes vê a imagem de  Bolsonaro  se desfazer como a de uma esfinge de areia ao vento e anda muito preocupado com isso, por lhe afetar diretamente.

 

As declarações disparatadas, atitudes bizarras, constrangedoras, tidas como estratégia de comunicação do governo, desandaram. Voltaram-se contra o próprio Bolsonaro, revelaram que ele é uma fraude, um mentiroso, incompetente, despreparado, e fizeram sua popularidade desabar. Os filhos foram contidos, mas o estrago está feito.

 

Guedes faz tudo que os lobbies das grandes corporações empresariais e financeiras nacionais, principalmente internacionais, querem: tira dos pobres e repassa para os ricos.

 

 

O ministro destrói os mecanismos de distribuição da renda construídos pelos governos Lula e Dilma, transforma direitos sociais em mercadorias e trama a entrega, para o empresariado e bancos, de áreas como a previdência, educação, saúde, empresas estratégicas de setores do petróleo e gás, energia, e outros ramos de atividade. Ele já anunciou que vai vender todas as empresas estatais.

 

 

Com 63,2% da população endividada, Guedes, como banqueiro que é, botou na mesa para Bolsonaro assinar e enviar ao Congresso, uma Medida Provisória para liberar o saque de parte do FGTS. Com essa medida, os bancos e financeiras conseguiram a garantia do recebimento das dívidas dos trabalhadores.

 

 

O bolso do povo sofreu outra investida sorrateira da mão invisível dos bancos e financeiras, com a autorização do governo,  para cobrança de uma taxa de quem tem cheque especial a partir de R$ 500,00. Essa taxa compensa, em grande parte, o que os bancos deixam de ganhar aqui com a queda dos juros em todo o mundo, provocada, entre outros fatores, pelo excesso de dinheiro acumulado nas nações centrais e disponível no mercado financeiro internacional.

 

 

Essas e outras poderiam ser chamadas de assalto ao país, mas Paulo Guedes e seus parceiros usam as expressões da gramática neoliberal, repetida exaustivamente pelo jornalismo porta-voz da política econômica do governo: privatizar, cortar gastos, reduzir o Estado, “empreendedorismo”, nova denominação para desempregados, e outras expressões fraudulentas, para justificar os negócios que estão fazendo com os direitos, os bens e o dinheiro públicos.

 

 

A inflação voltou, com remarcação de preços de praticamente todos os produtos e serviços, afetando diretamente a vida dos mais pobres. Até agora, a apresentadora Ana Maria Braga ainda não pendurou um colar de almôndegas no pescoço, como denúncia do preço da carne, para criticar o governo, como ela fez com Dilma, no passado, com um colar de tomates, no momento em que a ordem era destruir a imagem de Dilma.

 

 

Mas Paulo Guedes parece não dar importância à inflação. Ao contrário, disse que vai taxar todos os produtos da cesta básica. Ao mesmo tempo anuncia uma “cesta básica” para os banqueiros, bilhões do dinheiro público para socorrer bancos em dificuldade financeira.

 

 

No mesmo Brasil, o lucro dos 4 maiores bancos (Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil) bateu um recorde histórico, um crescimento de 15%, no lucro líquido, um acumulado de R$ 59,7 bilhões no ano.

 

 

Uma “cesta básica” semelhante foi dada, no passado, por Fernando Henrique Cardoso, quando ele criou o famoso PROER, um programa de salvação de bancos privados, do qual os banqueiros levaram R$ 37 bilhões de reais e até hoje não se sabe da prestação de contas dessa montanha de dinheiro público.

 

 

Guedes é um neoliberal fundamentalista, declaradamente inimigo do Estado, de mecanismos de distribuição da renda, de inclusão social, enfim, da rede de proteção aos mais pobres contra a desigualdade. Mas é a favor da distribuição de recursos do Estado para proteger negócios da classe dos magnatas.

 

 

Ele parece ter convicção de que o Estado é uma propriedade da elite, dos donos dos meios de produção, dos bancos, e que o aparato militar, judiciário, legislativo, deve continuar trabalhando para os de cima, para manter a ordem capitalista.

 

 

A contradição é tão flagrante, que o país vive uma das mais dramáticas crises da saúde pública e nenhuma medida foi anunciada para salvar hospitais e pessoas que estão morrendo nas filas por falta de atendimento.

 

 

Guedes é impiedoso no corte de recursos. O orçamento mínimo da Saúde, de R$ 121,2 bilhões, para 2020, por exemplo, está em vias de sofrer um corte de R$ 8,1 bilhões ou mais. O orçamento da Educação, para 2020, terá um corte de 17%.

 

 

A pauta de costumes se esgota. Por exemplo, não se fala mais em “escola sem partido”. O Congresso faz sua própria pauta e se articula diretamente com Paulo Guedes. Uma reforma ministerial deve ser anunciada nos próximos dias, para trocar ministros bizarros e incompetentes por outros, como revelou a imprensa recentremente.

 

 

O ministro Sérgio Moro, por ser possível concorrente de Bolsonaro nas eleições de 2022, deve sofrer duro revés com a reforma. A área da segurança pública, que estava lhe dando mídia positiva quase que diariamente, com anúncio de prisões de quadrilhas de tráfico de drogas, e outras ações semelhantes, será destacada do Ministério da Justiça e entregue ao Coronel Fraga, ex-deputado e amigo pessoal de Bolsonaro.

 

 

Candidato de estimação da grande mídia, Moro foi vítima de outro golpe de Bolsonaro ao ver seu pacote anticrime, aprovado na Câmara, sofrer 25 vetos do presidente da República,  mantida a parte que trata do “juiz de garantia”, tida por Moro como uma das meninas dos olhos do projeto.

 

 

 

Bolsonaro tem demonstrado que não quer ser também office boy do Moro.

 

Moro até tentou passar para a Polícia Federal as investigações sobre corrupção de um dos filhos, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, as ligações da família Bolsonaro com milicianos, mas não conseguiu.

 

 

Não se sabe se Moro queria a federalização das investigações para proteger o clã, a pedido do presidente ou se para fazer uma investigação rigorosa que levasse membros da família aos tribunais e assim liquidar Bolsonaro politicamente. O fato é que um quer destruir o outro silenciosamente.

 

 

Parece que não há mais dúvida entre os nativos deste país de que Marielle e Anderson foram mortos por milicianos ligados à família Bolsonaro. O avanço das investigações coordenadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro está muito próximo de descobrir os mandantes. Pode ser que já tenha os nomes. O descontrole de Bolsonaro ao falar com  jornalistas na porta do Palácio da Alvorada é um sintoma de que algo grave deve acontecer nos próximos dias.

 

 

O monturo fumega na cidade do Rio de Janeiro, queima por baixo, e desmorona aos poucos. Paulo Guedes, em Brasília, também avança dentro do governo, com seu office boy no posto, perturbado, aguardando papéis para assinar e o fim da queima do monturo fumegante, que pode fazer o seu governo transformar-se em cinzas.

 

 

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