Cobrar estacionamento público agora é colocar o carro na frente dos bois
Primeiro oferta de meios de mobilidade urbana decentes, acessíveis e de qualidade. Depois a taxação da ocupação dos espaços públicos, a ser administrada por uma empresa estatal do Distrito Federal, criada para essa finalidade e não por empresas privadas de empresários que só querem saber de embolsar o dinheiro da população.
Muita gente está aderindo à taxação dos estacionamentos públicos sem se dar conta de que o Distrito Federal não tem infraestrutura de mobilidade urbana suficiente e de qualidade para acomodar a população que supostamente deixaria de utilizar os carros para não pagar estacionamento.
O Distrito Federal tem um sistema de transportes precário e um dos mais caros do Brasil. A taxação, sem essa disponibilidade de meios de mobilidade decentes, com capacidade de atender a demanda da população, sem duvida irá engordar ainda mais o lucro das empresas privadas de transporte e satisfazer a gana de empresários de Brasília que querem cercar os estacionamentos públicos para tirar dinheiro da população.
A maioria das cidades europeias, tidas como referência por urbanistas e ambientalistas, na defesa da taxação dos estacionamentos, dispõem de infraestrutura de mobilidade urbana confortáveis, construída antes da taxação dos carros e da criação das chamadas “Zonas Verdes”.
Ter um carro na Europa é caro. Proprietários de automóveis foram taxados depois que ciclovias, metrôs, VLTs, ônibus elétricos e outros meios decentes de transporte foram disponibilizados para a população . Aqui querem colocar o carro na frente dos bois.
Que sistema de transporte público tem o DF? Todos sabem do caos e das tarifas escorchantes cobradas pelas empresas de ônibus. Ônibus de modelos superados, muitos caindo aos pedaços, destinados para atender principalmente a população de baixa renda. Ônibus movidos a biodiesel só no Plano Piloto.
Essa ideia de apropriação do espaço público, com cercas e guaritas para tirar dinheiro da população, recorrendo ao discurso ambientalista e de segurança, como justificativas, está cooptando autoridades e muita gente de boa fé.
Os empresários que gravitam em torno do GDF, e seus prepostos, estão inflando essa ideia como modernidade. Mas o que eles querem mesmo é a apropriação do que é público e esse é um caminho sem volta. O que é apropriado não volta a ser público.
Os estacionamentos dos hospitais privados de Brasília são exemplo dessa privatização. Vendem segurança como marketing, mas o número de registro de ocorrências nas delegacias, de furtos em veículos é alto. Isso devido ao tempo que as pessoas passam nos hospitais, em consultas e internações. Basta verificar o número de ocorrência na Secretaria de Segurança.
A sensação é de que, nesse debate, estamos sendo enganados.
Deveriam primeiro fazer um projeto de transição para mudança da infraestrutura de mobilidade existente para um sistema moderno, de qualidade, que atenda confortavelmente a demanda, depois instituir o plano para taxação. Ou seja, não botar o carro na frente dos bois.
Uso bicicleta também como meio de transporte e vejo como as ciclovias foram construídas e em que situação se encontram. São uma tripinha, uma vergonha, incompletas, enfim, comparadas com as das grandes cidades europeias, referência de construção de ciclovias.
E as pessoas que moram em regiões e edifícios que não dispõem de garagem? Pagarão pelo estacionamento dentro das quadras?
Mais atenção nesse debate. Cuidado com o andor, para não desequilibrar o Santo.