A novela e o espelho

 

 

 

 

 

Longe de mim defender a Globo, sei muito bem o que ela já fez com o Brasil, com seu jornalismo de esgoto, mas ouvi de uma pessoa, com razoável capacidade de discernimento, que as novelas da Globo são péssimos exemplos para a educação da sociedade.

 

 

 

Estou vendo A Força do Querer, escrita pela roteirista Gloria Peres, uma trama sensacional, que espelha muito bem o caráter da maioria das famílias brasileiras. Gostaria muito de ter escrito essa novela.

 

 

 

Na conversa, percebi que essa pessoa não gosta de ver espelhadas na tela certas misérias comuns, principalmente da classe média.

 

 

 

Notei que a preocupação dele é mais moral e de falta de compreensão do papel da dramaturgia, talvez até da literatura na cultura.

 

 

 

Não se trata de comparar, mas, levando em consideração a opinião dessa pessoa, teríamos que deixar de ler, por exemplo, Dostoiévski, esconder dos adolescentes Raskólnikov, a velinha usurária Aliena Ivánovna, de Crime e Castigo? Não deixar que cheguem perto de Capitães da Areia, de Dona Flor e seus Dois Maridos, de Jorge Amado?

 

 

 

 

O que dizer do comunista Dias Gomes e suas novelas de grande sucesso como o Bem Amado? Nela é exposta, em plena ditadura, a gênese do poder oligárquico, corrupto, com seus capangas milicianos, em conluio com a igreja católica, a polícia e a imprensa, apimentada com um bordel de prostitutas amáveis, respeitadas pela sociedade.

 

 

 

 

A novela O Rei do Gado estreou na Globo dois meses depois da morte de 19 trabalhadores sem-terra no conflito de Eldorado dos Carajás, no Pará.

 

 

 

 

A reforma agrária e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) foram abordados pela primeira vez numa telenovela com grande repercussão na mídia e na sociedade.

 

 

 

 

Essa discussão sobre as novelas da Globo atravessa décadas a fio e é bom que isso aconteça. São muitos olhares. Não vale preconceito. Tem que ver.

 

 

 

Não sou de ver novelas, mas, no confinamento estou vendendo A Força do Querer.

 

 

 

 

Uma novela que botou na tela a questão da transgenia, do tráfico, da indigência moral da maioria da classe média, mal educada, com seus trambiques, mergulhada em preconceitos de toda natureza, e o drama que ela vive, tentando se equilibrar entre a ambição de ser rica e o pânico de cair na vala da pobreza.

 

 

 

 

Nela, duas empregadas domésticas e um motorista travesti, fora do horário de trabalho, são quem segura, como esteios, a desestruturação das duas famílias ricas, decadentes. Isso é muito interessante.

 

 

 

 

Pra finalizar, perguntei se o filho dele jogava jogos eletrônicos. Ele disse que o filho é viciado, que os jogos são de imagens perfeitas e de extrema violência.

 

 

E então?

 

 

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