John Lennon: a sensibilidade à flor da pele
Por: Luiz Clementino
Reg. N* 324567 na ADEA
INTRODUÇÃO:
A música é uma expressão artística poderosa, envolvente e de fácil assimilação, contém um apego afetivo imediato. De maneira consciente ou não, essa arte produz um feitiço poderoso, belas canções estão associadas a grandes momentos de nossas vidas, desde a infância a adolescência, até fase adulta e por aí vai.
O compositor Lupicínio Rodrigues explica melhor essa magia em sua bela composição “Felicidade” quando canta em versos:
…A minha casa fica lá detrás do mundo
Mas eu vou em um segundo quando começo a cantar
E o pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa quando começa a pensar…
.
Os Beatles são um exemplo, de como a música está associada a fatos dos quais, sempre nos lembramos quando ouvimos suas canções. Suas músicas estão cravadas em nossos corações e mentes, para sempre. Eles, não somente transformaram o cenário pop do planeta, como também fizeram a cabeça de toda uma geração. Com um bom gosto e uma qualidade musical impressionante melhoraram o mundo e, quem vivenciou a “era Beatles”, sem dúvida foi um previlegiado. Como já foi dito, suas estupendas canções, nos faz voltamos ao passado adolescente, de festinhas e paixões vividas. Todos nós que não vivemos sem música, somos magnetizados por essa arte!
Abrindo um parênteses, faz-se necessário fazer um comentário oportuno. Para se ter idéia dessa potente associação “música e a vida”, o mesmo aconteceu com a geração anterior a nossa. O grande Orlando Silva o “cantor das multidões”, deslumbrou nossos pais, tios e contemporâneos, que também se sentiram favorecidos em viver a época de “ouro do radio”. Eu e meu amigo Ivanzinho (Ivan Sergio Santos), compositor e escritor, já conversamos a respeito.
Os Beatles, criaram técnicas de estúdio com efeitos sonoros, não-convencionais de microfone e outros instrumentos, e sabe lá mais o que, e navegaram por mares nunca antes navegados. Miscigenaram, sons de orquestras sinfônicas com guitarras de rock, bandas militares com ruídos bizarros tudo imbuído em imaginações absurdas, ou melhor psicodélicas. A coisa pode parecer estranha, mas a estética funcionou, e como! E outra coisa, a banda começou revivando o rock and roll, básico, tradicional. Porém, processo evoluiu tanto, que nem o céu foi o limite.
John, Paul, George e Ringo, e o maestro George Martin, formavam uma alquimia de afinidade musical fora do comum, em que o produto final apresentado, rompia os padrões do rock tradicional, onde tudo era puro deleite. Eles pré-delimitavam o caminho musical a percorrer. O lançamento de cada álbum da banda, não era apenas um evento internacional, tratava-se na verdade de um grande acontecimento, uma revolução maravilhosa, que causava um impacto sem precedentes. Como foi dito acima, Os Beatles, foram e são, um dos fenômenos mais importantes no cenário da arte sonora. Os caras botaram “pra fudê”.
Obs. Claro, que nem tudo foi um mar de rosas, existiu muitas brigas, acusações de parte a parte, tensões nas gravações, ofensas, egocentrismo, drogas e como não poderia deixar de ser, muita grana em jogo. Tudo isso e mais fatos internos que não sabemos, fez com que o conjunto viesse a findar. Porém como estamos aqui, para comentarmos tão somente a beleza que nos tocam profundamente que emanam das pessoas, podemos afirmar que, apesar de muitas vezes haver turbulência nos relacionamentos, John, Paul, George e Ringo, cumpriram o dever de casa.
Na concepção do processo criativo, os quatros, tiveram participação importantes dentro das características e peculiaridades de cada um. Ninguém foi omisso, ou menos producente, todos foram peças fundamentais, e estavam no momento certo e no lugar certo.
Paul McCartney com uma musicalidade deslumbrante, multi-instrumentista respeitadíssimo como músico, um assombro em compor harmonias belíssimas. Para se ter idéia de seu prestígio, ocorreu que durante as Olimpíadas de Londres em 1912, quando Paul, entrou no estádio, para um evento, toda a platéia se levantou e solfejaram em uníssono a canção “Hey Jude”. Em um excelente documentário sobre George Martin, o maestro afirma que John Lennon tinha consciência, de que não compunha como a harmonia esplendida do parceiro.
George, taciturno e magistral instrumentistas, conseguia transmitir toda a beleza criativa de Lennon e McCartney, e simultaneamente produzir obras pessoais de apurada técnica. Seu trabalho foi tão expressivo, e de personalidade, que George um solitário, rolou firme de igual para igual entre dois “monstros sagrados” que conviviam ao seu lado.
John, personalidade inquieta, polemica, inovadora, fascinante e criativo. E de acordo com o com o produtor da cadeia de televisão BTV, o crítico Ignacio J.: “a personalidade mais interessante do Beatles”.
Quanto a Ringo, muitos afirmavam na época, que o baterista não correspondia ao talento dos demais, era o “Beatle menor”, puro contra-senso, a verdade é que, sem o carismático do mais querido entre os quatro, a alta qualidade não existiria. Foi a simbiose, a interação do conjunto que abriu os canais competentes, para chegarem ao ápice da criatividade. Vejam bem, para a magia funcionar, foi imprescindível, a energia dos quatros. A alquimia tem seus mistérios.
Resumo da ópera.
O fato é que, o inevitável aconteceu: O “BELO” (que está sempre atento), FEZ MORADA NOS QUATRO RAPAZES DE LIVERPOOL, FLORESCEU, CRIOU ASAS E VOOU ALTO, BEM ALTO MESMO, E ENCANTOU NOSSOS CORAÇÕES!!
E, quando se desfizeram, todos nós fomos prejudicados!!!
JOHN LENNON:
Como John Lennon, sempre nos fascinou, e para falarmos do trabalho desse estupendo artista é necessário tentarmos entender sua personalidade complexa, e também a cultura musical da época que o envolveu.
John Lennon, foi músico, escritor, pacifista, Incoerente, meigo, agressivo, terno, sensível, frágil, líder, farsante, poeta, corajoso, irônico, amigo, criativo, excêntrico, sincero, inseguro, provocador, ou apenas um cara ciumento, drogado, bêbado, pôrra louca, maluco beleza, fenomenal, inovador, um cara legal, fissurado em rock and roll, e fã de carteirinha de Chuck Berry.
Artista brilhante, e o mais ousado e sensível dos quatro, com uma produção musical original e única.
Com problemas graves do ponto de vista afetivo e existencial, John expurgou muito de seus demônios com sua arte, e através desse processo de exorcização, foi-nos mostrados medos, inseguranças e angustias, e que muitas vezes nos identificamos. Grande parte de sua obra está calcada em seus conflitos. A dor foi transformada em música!
Quanto o cenário musical pop vivido por John, encontramos o seguinte sobre esse período:
“Após os anos 60, o mundo não seria mais o mesmo. A luta da geração dos anos 60 deu alguns frutos. A maioria das pessoas passou a ver a guerra de modo diferente: em vez de considera-la gloriosa, passaram a vê-la como uma coisa bárbara. Também mudaram as idéias sobre o direito das mulheres, a repressão sexual, a música, a moda, a natureza. Também ocorreram conquistas no campo dos direitos civis. O planeta absorveu algumas das reivindicações do período. Mas também, não seria exatamente o mundo desejado pelos jovens hippies”.
Na música pop, a coisa desbundou. Jovens músicos “bem nascidos” reconheceram o valor do Blues escravocrata e se envolveram. Brancos de alma negra saíram do armário, como Eric Clapton, Jim Morrison, Jimmy Page, Jeff Beck, e os Rolling Stones tiveram a sua fase mais criativa. E quando essa patota tocou suas guitarras, os bluesmen do Mississipi ficaram maravilhados.
E aconteceu também que, com a aceleração e distorção do blues, a coisa debandou para o hard rock, Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Existiram diversas bandas no gênero, porém essas lideravam o estilo. Outros destaques são Kiss e Aerosmith. Nos USA, o hard rock ganha uma sonoridade característica, conhecida como southern rock, onde os grupos Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd são os mais bem lembrados.
Um músico negro canhoto Jimi Hendrix, extasiou os próprios colegas com sua guitarra, ao emitir sons nunca antes ouvidos. Um jovem rapaz franzino de olhos azuis, dedilhando um violão folk, encantou o mundo com sua antologia poética. Brotou então um dos maiores poetas de toda uma geração, seu nome: Bob Dylan. Enquanto isso Johnny Cash, dava dignidade ao country, e o The Birds iniciavam a eletrificavam o folk com Mr Tambourine man. Janis Joplin cantou “Summertime” de George Gershwin, como ninguém o fez. Surgiu o maravilhoso cantor compositor, dançarino James Brown, que influenciou Deus e o mundo. Ray Charles juntou o jazz, o blues, o gospel e o country, e fez um som deslumbrante, primoroso e incomparável. O conjunto Pink Floyd realizou composições de rock clássico harmônico, um estilo progressivo/psicodélico e com espetáculos ao vivo extremamente.
Todos esses artistas mencionados acima, e muitos outros, constituiram o movimento chamado de “contra cultura”. Nesse processo de modificar os valores musicais, houve uma base, uma proveniência, um desenvolvimento dos padrões anteriores . A inovação não foi uma “geração expontanea”, proveio de movimentos anteriores. Exemplificando, o hard rock branco veio do Blues, os Rolling Stones reviveram o Blues, Janis Joplin cantou clássicos antigos de modo diferente, a sua maneira, e Ray Charles miscigenou vários gêneros para chegar no seu estilo, etc..etc. Dentro deste contexto, John Lennon compôs rock, blues, que fazem parte de obras primas do rock internacional, como Day tripper, Come together, A hard days night, Help, Revolution, Yeah Blues, e várias outras. O negócio é que ele, já rico ( fruto do deu trabalho), não estacionou, partiu para um processo inventivo, ou seja o melhor estava “provir”. E essa nova linguagem personificou e caracterizou seu ofício, sua arte transfigurou a um nível deslumbrante.
Cito isso, porque quero chegar em um ponto crucial sobre esse músico: SUA FERTILIDADE PROGRESSISTA E OUSADA. Sua música, nessa nova postura, é atípica, o recheio da obra nada tem do atmosfera do rock pauleira da época, a coisa é incomum e única. John Lennon, Idealizou e criou arranjos, que o quinto beatle, o maestro George Martin escreveu em partituras e orquestrações, tudo fiel as suas idéias. Agora, a pergunta é: qual foi a origem do seu novo trabalho, em que gênero musical se sustentou, para chegar onde chegou?
Ele deu algumas pistas. Para melhor compreensão, vejam a belíssima e enigmática I am Walrus de 1967.
Em uma das suas entrevistas na revista Rolling Stones ele diz: “escrevo letras das quais você só percebe o significado depois. Especialmente algumas das melhores, como I am Walrus. ….tive a idéia de fazer uma música que era uma sirene da polícia, mais não funcionou…não dá para realmente cantar a sirene. Eu era o Walrus, seja lá o que isso signifique. Vimos o filme Alice no País das Maravilhas em Los Angeles, e o Walrus era um grande capitalista que comia todas as ostras. Se você quer saber,é isso que ele era, embora eu não lembrasse disso quando compus a música.”
Com relação a estrutura musical de I am Walrus, encontrei na pesquisa que, os arranjos de George Martin, foram constituídos de uma orquestra que com os seguintes instrumentos: 8 violinos , 6 violoncelos, uma clarineta e 3 trompas. Para as de vozes, foi chamado o conjunto vocal Mike Sammes Singers, muito famoso na Inglaterra, e que contribuiu com oito vozes masculinas e oito vozes femininas.
Vejam o resultado, peça musical para vários tipos de instrumentos, uma incontestável obra prima:
http://www.youtube.com/watch?v=Ap6kSV_U45o I am walrus
Taí o DNA da genialidade do cara!! Essa dessemelhança musical, talvez provenha da pluralidade contida em uma personalidade inquieta que, através de uma busca frenética pela perfeição, talvez também procurasse um anestésio para seus tormentos. E consequentemente, seu trabalho é inigualável, autêntico, confiável e de um capricho tocante.
-em “Because”, do álbum “Abbey Road “, os vocais predominam, tornando uma canção exótica e marcante.
Uma das críticas a respeito dessa canção, que não consegui identificar o autor, diz:
“ A música começa com um cravo elétrico introdução de produtor George Martin . O cravo é acompanhado por guitarra de Lennon (imitando a linha de cravo) soando através de um alto-falante Leslie , onde os vocais e guitarra baixo entram em cena.
“Because” foi uma das poucas gravações dos Beatles para caracterizar um sintetizador Moog , interpretado por George Harrison. Afigura-se, no que Alan Pollack se refere como “mini-ponte”, e, em seguida, novamente, no final da canção. O grupo estava entre os primeiros no rock contemporâneo and roll para experimentar com um Moog, embora o instrumento tinha sido usado antes (nomeadamente por bandas como os Doors , Simon & Garfunkel e os Monkees , cujo “ Diário Nightly “foi a primeira gravação de rock para caracterizar o Moog). Segundo Lennon, estreita semelhança da canção musical para o primeiro movimento de Ludwig van Beethoven ‘s Moonlight Sonata não foi coincidência: “ Yoko estava tocando Beethoven ‘Moonlight Sonata’ no piano … Eu disse, ‘Você pode tocar os acordes para trás ? “, e escreveu” porque “em torno deles. As letras falam por si … Sem imagens, sem referências obscuras”.
Ouçam essa maravilha:
http://www.youtube.com/watch?v=dWlLPJG9Cvg Because
-agora ouçam a interessante e deslumbrante “Dear Prudence” , uma balada que mais parece uma ária, composta para a irmã da atriz Mia Farrow, na India durante o curso de meditação:
http://www.youtube.com/watch?v=eVP05ziY9ig Dear Prudence
Em decorrência do que foi exposto acima, canções como Strawberry fields forever, I am walrus, Happyness is a arm gun, All you need is love, I am so tired, Being for the benefit of Mr. Kite, Dear Prudence etc, são sons muita vezes não compreendidos na época, e hoje cultuados e tocados em todos ambientes do planeta. Para se ter idéia, quando eu e o poeta Mardônio Azevedo ouvimos, pela primeira vez Strawberry fields forever, lançado em disco compacto, pensamos que o “toca disco” estava fora de rotação, a introdução é propositalmente lenta.
Outro exemplo dessa configuração múltipla, é a programação visual ,do álbum solo de 1974 “Walls and Bridges”. A coisa é um primor, de uma imaginação impar. O álbum contem desenhos em “tons pastéis” do autor quando criança, e uma foto do rosto, dividida em três laminas, que quando movidas, obtém-se várias fisionomias de John. Um barato!!
CONSIDERAÇÕES:
Exibiu publicamente toda sua dor íntima, uma patológica carência afetiva, devido a rejeição materna, que o marcou por toda a vida. Na infância foi abandonado pelo pai que somente deu as caras, quando John já era famoso. Por meio do “grito primal” foi tudo escancarado na sincera, angustiante e desesperada canção “Mother”, com versos como “mãe você me teve, mas eu nunca tive você, mãe não vá embora, papai volte para casa”. Esse problema, somente foi amenizado com a ajuda de duas baitas mulheres, que conviveram com seu difícil temperamento, e sempre o compreenderam. Tia Mimi que o criou, e a dedicada Yoko Ono, sua esposa, fonte de inspiração do afetuoso poema Woman, onde expressou toda a sua gratidão e dependência afetiva. Vejam em “Mother”, quanto desespero:
http://www.youtube.com/watch?v=CEnc3RQE2lg Mother
Mãe
Mãe, você me teve, mas eu nunca a tive
Eu te quis, você não me quis
Então eu, eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus,
Pai, você me deixou, mas eu nunca o deixei
Eu precisei de você, você não precisou de mim
Então eu, eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus
Crianças, não façam o que eu fiz
Eu não pude caminhar e eu tentei correr
Então eu, eu apenas tenho que lhes falar
Adeus, adeus
Mamãe não vá
Papai vem para casa
Mamãe não vá
Papai vem para casa….
Agora vejam como Yoko Ono, foi importante em sua vida. Nessa canção , percebe-se como ela, preencheu seu vazio afetivo materno:
http://www.youtube.com/watch?v=f-x1FsvOAz4 Woman
Mulher
Mulher, eu quase não consigo expressar
Minhas emoções confusas em meus pensamentos.
Afinal de contas, estou eternamente em dívida com você.
E, mulher, eu tentarei expressar
Meus sentimentos interiores e gratidão
Por me mostrar o significado do sucesso.
Ooh, bem, bem,
Doo, doo, doo, doo, doo.
Mulher, eu sei que você compreende
A criancinha dentro do homem.
Por favor, lembre-se: minha vida está em suas mãos.
E, mulher, mantenha-me próximo do seu coração
Por mais que [estejamos] distantes, não nos mantenha separados.
Afinal de contas, está escrito nas estrelas…
Ooh, bem, bem,
Doo, doo, doo, doo, doo.
Mulher, por favor deixe-me explicar:
Eu nunca tive intenção de te causar tristeza ou dor.
Então, deixe-me te dizer de novo e de novo e de novo
Eu te amo, sim, sim,
Agora e eternamente.
Enveredou por outras trilhas, decorrente de várias experiências, gerando preciosidades. Algumas de cunho pacifista, “Give Peace A Chance”, outras de cunho social “Working Class Hero” . Cantou o processo pavoroso, de se livrar das drogas em “Turkey Cold” . A música é um horror, atinge momentos angustiantes, barra pesadíssima. Confiram:
http://www.youtube.com/watch?v=X7Ae8wRvaPon Turkey Cold
….Meu corpo está doendo
Arrepios nos ossos
Não consigo ver ninguém
Me deixe em paz…
….Trinta e seis horas
Rolando de dor
Rezando para que alguém
Livre-me de novo
Oh eu serei um bom menino
Por favor, me faça ficar bem
Eu te prometo qualquer coisa
Tire-me deste inferno….
Agora vejam “Working Class Hero” na trilha de Bob Dylan, como denuncia social:
http://www.youtube.com/watch?v=njG7p6CSbCU Working Class Hero
Tudo indica que o lar que nunca teve, conseguiu somente com Yoko e o filho Sean Penn, base para a gênese de lindas canções sobre seu ambiente domestico. No explêndido Álbum Branco, nos presenteou com a belíssima balada “Julia”, referência a sua distante mãe. Compôs uma comovente canção de ninar para o filhinho, intitulada “Beautiful boy”, com muita ternura e dedicação, coisa que nunca recebeu.
http://www.youtube.com/watch?v=0A56ZuKgPYg Beautiful boy
Como sempre foi deslumbrado por “rock and roll”, no disco intitulado ROCK’n ROLL, grava covers de rocks que o marcaram na adolescência, com arranjos próprios e consistentes, sem perder a originalidade. No soul “Stand By Me”, introduz o “slyde quitar”, com o solo da guitarra de “Unchained Melody”, dando nova vida a essa bela canção.
http://www.youtube.com/watch?v=O4_ghOG9JQM Stand By Me,
O crítico de música Ignácio Juliá, co-editor da clássica revista de rock Rota 66, ao comentar o álbum IMAGINE, afirma que John realizou uma das melhores canções de amor, Oh My Love, já feitas por um homem para uma mulher. E acrescenta que o trabalho deste LP, trata-se na verdade de auto-retrato de um homem sensível e, ao mesmo tempo, agressivo, inseguro, arrojado e socialmente atento. Ouçam a canção:
http://www.youtube.com/watch?v=UfM70FZNC8c
Talvez John Lennon não tenha conseguido viver em um mundo como gostaria. No entanto, ele expressou esse desejo em um dos poemas mais belos da história do rock. “Um hino à fé do homem num mundo melhor, mesmo diante de uma realidade desesperadora”, como escreveu o crítico I. Juliá.
http://www.youtube.com/watch?v=bBW8g64Vzf8
Imagine
Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade do Homem
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só
Suas respostas aos repórteres eram aguçadas e interessantes, por exemplo: “Se usamos perucas, são as únicas com caspas verdadeiras” ou “Somos mais populares do que Cristo”. Quando os Beatles estiveram no Himalaia para fazer estágio meditativo de técnicas transcendentais, com guru da moda, Maharishi Mahesh Yogi, houve desentendimento. Depois da confusão, um repórter perguntou a Lennon, como ele chegou a conclusão, que Maharishi Mahesh Yogi não era o que diziam. John respondeu: “Quando cheguei lá e olhei pra cara dele, vi que era um picareta”. (*)
Ao se apresentaram para a realeza britânica, incentivou o público a bater palmas e a burguesia a balançar as jóias. Em 1970, John Lennon em entrevista, quando lhe foi perguntado, se ele era um gênio, disse: “ou sou louco ou sou um gênio. Como nunca me prenderam, então sou um gênio”.
Nos últimos cinco anos de sua vida, ficou recluso em seu apartamento com Yoko e cuidando do filho, quando subitamente lançou o derradeiro álbum DOUBLE FANTASY, recebendo algumas críticas desfavoráveis. Porém mesmo assim foi esperado com grande expectativa por se tratar de um álbum de Lennon.
Infelizmente aconteceu que, na noite de 8 de dezembro de 1980, um grandíssimo filho de uma puta, babaca completo, com um papo estranho, pirado, descarregou impiedosamente um revolver calibre 38 (fazendo pose de duelista ), nas costas de John, quando entrava em sua residência, no Dakota Building em Nova York. Horas antes Lennon havia autografado para o imbecil. O cara tá preso até hoje.
O mundo entristeceu!! Ficamos pasmos!!! Todos nós demoramos a digerir tamanha violência!!! Houve vigília e luto nas grandes cidades. O prefeito de New York, determinou que todas as bandeiras fossem erguidas pela metade. Me lembro, das imagens no Central Park, multidões abatidas segurando fotos e velas, cantando canções de John Lennon em grande comoção.
Hoje, 34 anos depois ainda sentimos a sua falta. Foi uma grande perda, deixou um vazio melancólico, um vácuo não preenchido até hoje. Na ocasião, o tremendão Erasmo Carlos, ao dar entrevista na TV, não conseguia falar, chorava copiosamente; Rita Lee soluçava e dizia que se sentia viúva; Elis Regina estava inconformada e Frank Sinatra declarou com a fisionomia triste e assustada: “Estou chocadíssimo, estou chocadíssimo”, e também chorou!!!
EPÍLOGO:
John, o “O SONHO NÃO ACABOU”, até porque sua musica permanece viva, nos lugares, nos amores e nos amigos de antanho, dos quais sempre nos lembraremos, da mesma maneira que você cantou em seu belo poema:
Há lugares dos quais vou me lembrar
por toda a minha vida
Alguns já nem existem, outros permanecem
Todos esses lugares tiveram seus momentos
Com amores e amigos, dos quais ainda me lembro
Alguns amigos já se foram, outros ainda vivem
Mas em minha vida, amei todos eles
in my life
– Quando o grande amor de Johnny Cash, sua mulher June faleceu, ele cantou já delibitado “In my Life” , vejam quanta emoção:
http://www.youtube.com/watch?v=HlhcyWLORes in my life
muito obrigado
e até a proxima
luiz c
OPINIÕES:
Keith Richards: John tinha cabeça própria. Não era somente um camarada meu, ele era um cara de todo mundo. Não nos víamos com freqüência, quando aparecia queria festa.
Steve Wonder: ..meus melhores momentos com John, foram todos que nos encontramos.
Tom Petty: John Lennon era tudo. Sua influência naqueles tempos, quando comecei a tocar nos anos sessenta, era imensurável.
Yoko Ono: …quanto mais o mundo nos detestava, mais nos tornávamos protetores em relação um ao outro. ….Certa noite, ele estava soluçando dizendo: “não me deixe sozinho, não morra antes de mim.”
Paul McCartney: “Paul, levanta! Atende logo esse telefone, por favor!”
Linda me cutucava. Era de madrugada. Eu sabia que o telefone estava tocando, tocou diversas vezes, mas eu preferi ignorar, e continuar dormindo, uma hora a pessoa que telefonava teria que desistir. Mas a pessoa não desistiu.
Resolvi atender pelo único motivo de poder falar rápido, desligar, e continuar dormindo. Amanhã eu precisava acordar cedo, começaria a trabalhar em um novo projeto, e seria um dia longo e cansativo.
Estiquei o meu braço na preguiça de levantar, e peguei o telefone em cima do criado – mudo.
Paul? Você está me ouvindo? Paul!”
Meu coração bateu mais forte no momento em que reconheci a voz de Yoko.
Sim, estou, fale.”
“John! É com o John!”
“John? O que está acontecendo, Yoko?”
“Você… Não ficou sabendo?”
“Não! O que houve? Ele está bem?”
“Um louco atirou nele!”
“E como ele está? Aonde vocês estão? Me diz, eu já chego ai, vou me arrumar!’’
“Paul… Ele morreu… Ele não aguentou, ele morreu.”
“Alô?” – Perguntei, e tentei me esforçar para não ficar com uma voz de sono. No outro lado da linha, tocava uma música que eu não escutava e muito menos cantava fazia muito tempo, All My Loving, música que costumava me trazer boas lembranças, tornou a vir em minha mente cercada de momentos ruins. Comecei a ficar com raiva, pois além da música no fundo, eu ouvia muitas vozes e muito ruído. – “Alô? Isso é alguma piada?”
Eu deixei o telefone cair no chão. Por um minuto, eu fiquei cego. Ouvia Linda me chamando no fundo, perguntando o que acontecia, mas as palavras não saiam da minha boca. Minha mente ficou vazia. Dentro do meu peito, parecia que tinha alguém apertando o meu coração. Fechei meus olhos com força, tentando acordar daquele pesadelo horrível. Mas nada aconteceu. Era real. John estava morto.
PS-1- Alguns anos atrás foi editado pela editora ALPH, a interessante e bem elaborada obra intitulada “O LIVRO DOS MORTOS DO ROCK”, do autor norte-americano David Comfort. Trata-se de relatos de circunstâncias e consequências das mortes de roqueiros renomados. Dentre os famosos, consta JOHN LENNON. O escritor elabora detalhes da vida particular do músico. Em concordância com outros biógrafos, é relatado que na ocasião do homicídio, YOKO mantinha um staff de pessoas esotéricas que os assessoravam constantemente. Tarólogos, videntes, cartomantes e paranormais tiveram premonições e visões da iminente tragédia. Em decorrência desse fato, foram contratados profissionais de segurança que exigiram certas medidas preventivas, mas o casal, por algum motivo, não atendeu. Outro fato que todos os pesquisadores afirmam é que infelizmente JOHN, permanecia dependente de drogas na ocasião de sua morte. Sobre YOKO ONO, o autor afirma que como viúva, herdou metade do espólio de 30 milhões de dólares do músico e foi nomeada a executora dos bens. YOKO se casou com seu assistente, seis meses depois do assassinato, em cerimônia secreta. O casal se separou em 2001. DOUBLE FANTASY subiu rapidamente nas paradas, chegando ao primeiro lugar e ganhou o Grammy de melhor Álbum do ano.
PS-2- a escritora Lúcia Villares, em seu livro “John Lennon”, da Ed, Brasiliense, comenta o seguinte fato: Yoko Ono tinha sérios problemas para engravidar, em novembro de 68 ela é internada em um hospital para transfusões de sangue, devido a ameaça de aborto. John cede seu leito para um doente de emergência e passa várias noites deitado ao lado no chão. Apesar de todos os cuidados, Yoko perde a criança.
PS.3– (*) sobre o caso do Maharishi Mahesh Yogi, comentado acima, com quem os Beatles estiveram no Himalaia, o pesquisador musical dos Beatles Eduardo Badfinger em seu excelente “BAU DO EDU” relembra que esse fato teve nova versão. Em uma boa conversa no ”Bar dos Cunhados”, Dudu me disse, que George Harrison, alguns meses antes de falecer, revelou que houve um acordo entre os Beatles e Maharishi, da não utilização de drogas durante o período do retiro espiritual. Porém, esse acordo foi quebrado pelos Beatles. Em decorrência dessa delicada situação, foi publicada a versão favorável ao quarteto de Liverpool.
O blog ”BAÚ DO EDU” é trabalho muito bem elaborado de pesquisa musical focado nos Beatles e rock de uma maneira geral. Trata-se, na verdade, de um projeto sério para uma geração que curtiu a criatividade excepcional surgida nos anos 60/70 em todo o mundo. As informações comentadas sobre as origens e o desenvolvimento do rock são apresentadas com uma abordagem didática, fascinante e apaixonante pelo autor.
PS-3 – John Lennon sempre foi admirador de Chuck Berry, o considerava o grande poeta do rock, vejam eles juntos:
http://www.youtube.com/watch?v=kpTpxbnBWYM Johnny B Good
http://www.youtube.com/watch?v=5YcPtitpLkk Johnny B Good com Julian Lennon ( Keith Richards eRobert Gray)
-O melhor 007 do cinema, Sean Connery, recita os versos com fundo musical do maestro George Martin em gravação própria.
http://www.youtube.com/watch?v=cAFc47A-vzY