Pobres são eles que correm atrás do dinheiro

 

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Em meio a tantas misérias humanas, guerras, pobreza, o mundo sempre nos proporciona lufadas de lucidez, de pessoas que apontam novos rumos, que não os da mesquinhez, das obsessões, do individualismo, da indiferença, próprios da decadência da cultura capitalista reinante.

 

Há poucos dias, Olívio Dutra foi agredido violentamente dentro de um ônibus, em Porto Alegre, num assalto.

 

Olívio, mesmo tendo sido ministro das Cidades, governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, deputado Constituinte, presidente de sindicato, anda de ônibus diariamente e mora num edifício sem elevador. Não se deixou cair na tentação dos privilégios de classe.

 

Formado em Letras, apaixonado por literatura, vive nas pegadas dos grandes escritores a visitar o mundo fantástico das obras deles.

 

Quando ministro das Cidades, almoçava no refeitório do ministério, em Brasília, como um funcionário igual aos demais.

 

Unknown

 

 

Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, torturado covardemente e encarcerado durante 14 anos, pela ditadura uruguaia, vive uma vida monástica, coerente com os valores socialistas.

 

Sua companheira, senadora, Lucía Topolansky, filha de família de classe média alta, que a conheceu na clandestinidade, sofreu as agruras da prisão durante 13 anos, como presa política no mesmo período de Mojica.

 

Moram no sítio Rincón del Cerro, perto de Montevidéu, numa casa modesta de apenas um quarto. Cultivam flores, hortaliças e frutas para o sustento. Dirigem um fusca azul, 1978, como cidadãos iguais a todos.

 

Quando o classificaram como “o presidente mais pobre do mundo”, Mujica respondeu: “Uma pessoa pobre não é aquela que tem pouco, mas aquela que precisa sempre de mais e mais e mais… Eu não vivo na pobreza, vivo com simplicidade. Necessito de poucas coisas para viver. Quem tem muitas coisas vive preso a elas.”

 

Comportou-se da mesma forma que sempre viveu quando exerceu a presidência de seu país. Dispensou as honrarias e os privilégios do cargo de Presidente da República.

 

Não usava gravata. Muitas vezes ia despachar, na sede do governo, de sandálias.

 

Em reuniões de trabalho, sentava-se no meio dos funcionários e debatia os assuntos de forma cidadã, sem abrir mão de sua condição de igualdade.

 

Mujica doou 90% do salário que ganhava na Presidência da República a entidades que lutam por direitos humanos. O mesmo faz Lucía, como senadora.

 

Com a implantação de medidas libertárias, Mujica levou o Uruguai a se tornar referência mundial em cidadania.

 

David Cameron, primeiro ministro britânico, anda de metrô e cultiva hábitos parcimoniosos na vida pública.

 

A ex-juíza e socialista Manuela Carmena, prefeita de Madrid, também anda de metrô e abriu mão de regalias do governo municipal.

 

O mesmo fazem prefeitos e prefeitas socialistas de outras cidades da Espanha. Mantém hábitos modestos à frente dos governos municipais.

 

ANS02. Vatican City (Vatican City State (holy See)), 27/04/2014.- Pope Francis greets the faithful at the end of the Canonization Mass for Pope John Paul II and Pope John XXIII in Saint Peter's square at Vatican City, 27 April 2014. John XXIII and John Paul II joined the ranks of officially-recognized Catholic saints on Sunday, as Pope Francis celebrated a canonization mass before hundreds of thousands of pilgrims. (Papa) EFE/EPA/RADEK PIETRUSZKA POLAND OUT

 

O Papa Francisco, adepto da vida simples, entre outras coisas, faz suas refeições junto com os funcionários do Vaticano. Não aceita os privilégios dos papas tradicionais.

Combate o consumismo, a ostentação, a acumulação capitalista, faz suas pregações estimulando a fraternidade, a igualdade, o despojamento e a coerência com valores humanos sublimes.

 

Num mundo onde a riqueza de 1% deve ultrapassar a dos outros 99% até 2016, numa velocidade de acumulação nunca visto, e a pobreza, as guerras, a ganância se espalham, bilionários se movimentam em sentido contrário.

 

Bill Gates doou 95% de sua fortuna a ONG’s de direitos humanos, para investimentos em pesquisas científicas na agricultura, no combate à fome, na produção de vacinas e aplicação em comunidades carentes em todo o mundo.

 

Bom mesmo seria se ele desse as mãos ao movimento “Software Livre” para grandes realizações no mundo, mas parece que ainda não chegou a esse ponto.

 

Bill Gates lidera um movimento internacional de nome “The Giving Pledge”, a ser lançado em fevereiro de 2016, de convencimento de bilionários de todo o mundo a doarem suas fortunas para benefícios às populações desfavorecidas.

 

Ele já convenceu 92 bilionários americanos a fazerem suas doações não em testamento, mas em vida, para investimento em áreas como educação, saúde, meio ambiente, e assim, ajudar na superação da pobreza.

 

Mark Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan, doaram 99% de sua fortuna, avaliada em US$ 45 bilhões, para políticas públicas de saúde, educação, pesquisa científica e energia.

 

Esses são alguns exemplos de pessoas com atitudes concretas de coerência ou tomada de consciência de solidariedade humana.

 

Num país como o Brasil, de cultura senhorial e aristocrática, autoridades governamentais, parlamentares, juízes, e outros servidores públicos, mesmo gente que se diz de esquerda, contraditoriamente, ainda mantém soberba monárquica, como se fossem membros de corte e não de uma República.

 

Comportam-se como semideuses, usando e abusando de privilégios imperiais, herdados.

 

Posturas e atitudes de pessoas como Olívio Dutra, Mujica, Lucía Topolansky, David Cameron, Papa Francisco, Manuela Carmena, Bill Gates, Mark Zuckerberg e outros, são fios de esperança em meio à corrupção de todos os tipos, que impregnam corações e mentes, e se alastram pelo mundo como um mal de sete cabeças.

 

Que essa lufada de lucidez ajude a dissolver misérias humanas que persistem aqui e mundo afora. Que a fraternidade, a solidariedade humana, a simplicidade prevaleçam em 2016 e avancem rumo ao futuro.

 

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