Ei Folha, o Brasil de hoje não é o Brasil de 1964
Depois de participar abertamente da campanha do golpe contra Dilma e perceber que a sociedade organizada se levantou em defesa da democracia e da legalidade, o jornal Folha de São Paulo desembarca da canoa furada e agora procura uma boia de salvação.
No final de semana, o jornal paulista apelou para editoriais em letras garrafais, na primeira página, pregando renúncia e eleições gerais. A Folha parece apostar num “salvador da pátria”, no estilo Jânio Quadros, Fernando Color. Outra canoa furada.
Saudades de Cláudio Abramo, de Perseu Abramo, e de tantos outros jornalistas comprometidos com a democracia, com a cidadania e com a civilização do país. Pessoas que pensavam grande e dignificaram o jornalismo e a Folha.
Por incrível que pareça, a Folha de agora se recusa reconhecer a legítima reeleição da Presidenta Dilma, o Estado democrático de direito, a democracia e a legalidade.
O editorial do final da semana é um texto arrogante, pretensioso, como se o jornal ainda tivesse a força que tivera em tempos idos, antes da internet. Indica que bateu um desespero, que a Folha não está acertando, está tateando o jornalismo e não se deu conta da decadência da linha editorial rastaquera que adota.
Além disso, demonstra desinformação sobre o país no qual vivemos, como se o país fosse um arremedo de república, aquela dos tempos dos barões do café.
A Folha parece desconhecer o nível de organização que a sociedade brasileira atingiu nas últimas décadas, em particular da população da base da pirâmide social, e da comunicação alternativa que está rolando na internet e nos fóruns de debate de Norte a Sul do país. Organização para enfrentar e derrotar a tentativa de golpe.
Trata-se de fator novo e determinante na sociedade brasileira. Os valores democráticos criaram raízes, Folha. Entenda isso de uma vez por todas.
Interessante seria, talvez, para o futuro do jornal, alinhar-se com o Brasil cidadão, organizado, esse que está disposto a lutar pela democracia até as últimas consequência, como lutou contra a ditadura civil-militar. Hoje incomparavelmente com mais força e capacidade de organização .
Se quer sobreviver no mar da internet, interessante seria também evitar flertar com a opinião pública deformada, da qual participas ativamente da deformação.
Deixar-se descolar do passado de colaboração com a ditadura civil-militar, quando emprestou carros com a logomarca do jornal para levar presos ao DOPS, ao DOI-CODI, para depor e lá serem torturados, muitos deles mortos e desaparecidos. Uma mancha que o tempo não apagará.
A Presidenta Dilma, legitimamente reeleita, quem a Folha insiste em derrubar, também foi torturada no DOI-CODI, cumpriu pena de três anos e seis meses de prisão.Por favor, Folha, nada de recaída.
A Folha ainda não conseguiu superar o provinciano e a ideia que faz do Brasil, a mesma do século passado, de que o Brasil é uma grande periferia de São Paulo.
A mídia de São Paulo, Rio de janeiro e Brasília quer um governo que governe voltado para São Paulo e Rio de Janeiro, como quer a Folha. Nada de Nordeste, Norte, Centro-Oeste. Quer um Brasil com a cara dela.
A massa de gente de redes sociais que vai de camisa da seleção brasileira para a rua pedir o impeachment da Dilma e a volta dos militares, se orienta pelo noticiário manipulado por jornais como a Folha, por isso ficou com a cara da Folha, do Estadão, da Globo, da Veja, da Época, da Istoé, da CBN, da Bandenews e de outras do mesmo ramo.
Mas grande parte dessa mesma massa de gente começou a se dar conta que a rede de mídia familiar se uniu com os partidos de oposição, se aproveitando dos efeitos da crise econômico-financeira mundial que se abateram sobre o Brasil, para jogar o povo contra o governo. Começa a desconfiar do Juiz Moro, da Operação Lava Jato e do impeatchment comandado por Michel Temer e Eduardo Cunha. Isso porque a internet está desmentindo os jornalões, as revistas de fim de semana e as TVs..
Por outro lado, a sociedade civil organizada se reune, divulga manifestos, faz manifestações contra o golpe. Está demonstrando que no Brasil não vai rolar “Primavera árabe ” nem renúncia, nem eleições gerais como quer a Folha.
A Folha não tem outra saída. Terá que respeitar o resultado das urnas, se acostumar com a democracia e esquecer golpes porque o Brasil mudou, é um outro país, mais cidadão, em luta para afirmação de direitos e isso não tem retorno, Folha.
Não é mais o Brasil das quarteladas, as quais a Folha apoiou. Até os militares são outros, é uma nova geração formada na democracia, com outros valores, e estão muito conscientes de suas funções constitucionais.
Folha, já que desembarcaste do impeachment, desembarque também da ideia de renúncia e novas eleições, e vamos às urnas em 2018. Quem apresentar o melhor projeto para o Brasil e fizer o melhor debate leva.
Desculpe a franqueza, mas seus editoriais são bolas fora. Seja diferente nesse mar de mentiras, faça um jornalismo honesto, decente. Sucesso garantido.